Sou filho e neto de caçador. Cresci vendo meus tios e primos caçarem. Quando guri, cheguei até a participar de algumas caçadas com eles.
Na época da adolescência e início da fase adulta, andava à cata de caçadores e me convidando para, com eles, realizar alguma caçada.
No final da década de 1990, meu pai adquiriu uma propriedade rural na costa do Arroio Jaguarão, repleta de matas nativas, onde abundavam várias espécies de animais silvestres, principalmente tatu e mulita.
E, justamente bem nessa época, meu pai tinha abandonado as caçadas e não permitia que ninguém caçasse em seus campos. E, mesmo ciente disso, eu dava um jeito de roubar uma caçada e chegava até a pegar cachorros emprestados com um lindeiro para a empreitada. Tudo isso à noite, é claro, quando meu pai retornava para a cidade.
Repeti essa violação por algumas vezes, até que um dia, deixei pistas, que foram descobertas por meu pai. Quando questionado por ele, acabei confessando o crime. Naquele momento tenso, onde fui pego em flagrante, ao invés de me calar e assumir o erro, ainda tive a petulância de interpelar meu pai, indagando-o do porquê ele não me deixava caçar. Sua resposta foi enfática: “rapaz, deixa os bichos, eu estou pedindo a Deus para que me perdoe pelo mal que fiz a eles”.
Com tamanha refutação, qualquer filho sensato teria parado imediatamente com tal prática. No entanto, eu estava obcecado e segui na minha sanha destruidora por alguns anos. Até que um dia, repentinamente, as coisas começaram a mudar. Já não conseguia campos para caçar e nem parceiros para as caçadas. Pelos campos e matas já não encontrava muitas espécies de animais silvestres.
Foi então que parei e fiz uma profunda reflexão sobre o meu comportamento. E cheguei à conclusão que estava sendo um louco em carregar uma pá nas costas e um facão na cintura por quilômetro, atravessando campos e matas em meio à escuridão. Que estava sendo um egoísta e insensível ao explorar os cachorros por horas, exclusivamente em meu proveito. Que estava sendo um tolo em arriscar a minha vida e a dos cães que me acompanhavam. E, acima de tudo, estava sendo extremamente cruel em abater animais silvestres indefesos, contribuindo expressivamente para sua extinção.
Por isso, desde esse momento abandonei as caçadas. Deixei de ser um caçador para ser um defensor dos animais silvestres, me tornei um ambientalista.
Hoje em dia, a única coisa que capturo, são imagens da fauna e da flora do nosso belo e exclusivo bioma Pampa. E a você, que estás lendo esse artigo, que ainda cultiva a prática da caçada, convido a se unir a mim e deixar de ser um caçador, para se tornar um conservador e protetor dos animais selvagens.
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