Borges de Medeiros comandou o governo do Rio
Grande do Sul por 25 anos. A região norte foi a grande responsável por sua
longa permanência no poder.
Com a revolução de 1923 e a insatisfação
latente das alas oposicionistas o poder de Borges de Medeiros começou a
declinar. O “Pacto de Pedras” pôs fim a “Era Borges” cessando os movimentos
revolucionários, impedindo-o de continuar disputando o cargo de presidente do
estado.
Em fins de 1927, Getúlio Vargas foi eleito
para ocupar a governança do estado, tomando posse no dia 21 de janeiro de 1928.
1
Em março do mesmo ano, Assis Brasil convocara
uma convenção da Aliança Libertadora marcada para ser realizada em Bagé,
constituindo-se num acontecimento político da maior repercussão, especialmente
na zona formada pelos municípios de Piratini, Pinheiro Machado, Canguçu, Erval
do Sul, Pelotas, Caçapava e Dom Pedrito, pela pequena distância que separava esses
municípios daquela que serviria de sede ao congresso.
Para esse memorável encontro, os dirigentes
da Aliança Libertadora haviam convidado um grande número de lideranças
políticas oposicionistas, inclusive de outros estados, extraordinários oradores
que, para Bagé seguiram em caravanas, a fim de prestigiarem o acontecimento. Dentre
tantas caravanas, se destacava a representação de Piratini.
Nessa oportunidade, e nessas circunstâncias,
o Partido Libertador foi fundado.
Durante o congresso, os oradores anunciados
pelo apresentador eram comparados a pássaros cantadores. Coisa mais ou menos
como sucede com os proprietários de circos, quando anunciam seus artistas:
“E agora, senhoras e senhores, teremos a
oportunidade de escutar o trinar da patativa do norte, na voz extraordinária do
fulano de tal, insigne político, representante do estado tal”. E, em seguida,
anunciando outro dizia: “E agora, caros congressistas, terão oportunidade de
escutar o cantar da graúna do estado tal, na palavra empolgante do nobre
deputado fulano de tal, líder do bravo estado tal”.
E, nesse andar, o apresentador continuou a
anunciar os oradores seguintes, alguns reconhecidamente famosos, sempre os
comparando com pássaros canoros, como patativas, graúnas, rouxinóis, até que a
enorme lista se esgotasse. Era de praxe, ao final, antes de encerrar os trabalhos,
oferecer a palavra a quem dela quisesse fazer uso. Foi então que, lá do fundo
da plateia, um homenzinho baixo, magro, feio e de óculos, levantou-se de sua
cadeira e falou: “Peço a palavra, senhor presidente”.
Houve um movimento generalizado do plenário
repleto. Todos dirigiram seus olhares para aquela figura esquisita, sentada em
uma das últimas fileiras.
Era Tertuliano de Leon, integrante da
delegação de Piratini, um rábula inteligentíssimo, que costumava discursar,
recitar e cantar. E assim começou seu discurso:
“Depois de termos nos deleitado com o mavioso
trinar da patativa do norte, na palavra de fulano de tal; depois de termos
escutado o rouxinol dos campos do estado tal, na palavra do ilustre deputado
beltrano, depois deste plenário ter ouvido com encantamento jamais igualado o entoar
da graúna dos trigais, no falar do bravo companheiro sicrano, peço licença para
que, por apenas alguns minutos, escutem, também o pio-pio do tico-tico das
capoeiras do município de Piratini”.
Não é preciso dizer que ele levantou toda a plateia
e foi, por ela, o mais aplaudido de todos os oradores daquele tão lembrado
congresso. 2
FONTES:
1
Brandt, Aline. “De Borges a Getúlio: A trasnformação política nas páginas de O
Nacional”. Universidade de Passo Fundo. 2008. Dissertação de pós-graduação.
119 páginas. Disponível em:
https://secure.upf.br/pdf/2008AlineBrandt.pdf
2 Duarte, José Bacchieri. “100 Anos da Política Brasileira – E a
influência exercida pelas lideranças do Rio Grande do Sul no século XX”, Pelotas,
Editora Universitária/UFPel, 1996. 586 p.
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