domingo, 24 de junho de 2018

CAPANDO CUIÚDO

Desenho de Aristeu Valério Trassante Filho


Tupy Britto possuía um campo à margem direita do Arroio Jaguarão, bem atrás da Estância Santo Antônio, na época município de Bagé, atualmente território pertencente a Hulha Negra-RS. Tanto para sair quanto para chegar em sua propriedade, tinha que atravessar um corredor familiar, onde sempre pastava um cuiúdo, cujo dono era um lindeiro. Acontece que volta e meia o cuiúdo incomodava, querendo cobrir as éguas que ali cruzavam. Tupy, já cansado dessa situação, pediu para seu vizinho prender ou capar o animal. Entretanto, infelizmente, o vizinho não fez nada para resolver o problema. Foi então que Tupy irritou-se, convocou seu empregado e foram para o corredor. Laçaram o cuiúdo, caparam, e depois o largaram de volta. Transcorridos dois meses, Tupy atravessou o arroio para ir à venda do LX Barbosa comprar alguns mantimentos para sua casa. Em questão de meia hora chegou ao seu destino, apeou de sua tordilha, afrouxou os arreios e deixou-a à soga no palanque, em frente ao bolicho. Quando adentrou no recinto, avistou o dono e o irmão do dono do ex-cuiúdo tomando um trago de canha no balcão. Não demorou muito e um deles largou: “Tchê, eu dava um doce para saber quem foi o sem vergonha, que capou o cuiúdo aquele!” Mas para quê? Mais ligeiro que um gato, o Tupy velho deu um salto e meteu seu revólver na boca do vivente, afirmando: “capei o cuiúdo e capo a ti também”. E o índio respondeu: “bah, seu Tupy, eu não sabia que foi o senhor!”. Tupy retrucou: “por quê? Acaso ficou mal capado?”; e o cuera, cagado de medo, completou: “capaz seu Tupy, ficou especial de primeira, se eu soubesse que o senhor castrava tão bem já tinha pedido para capar antes.”

Fontes:

 Lopes, Cássio Gomes. “Batendo Tição – Causos de Gauchadas”, Bagé, Pallotti, 2016. 131 p.

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