domingo, 24 de junho de 2018

O SENTINELA DOS PAMPAS

Quero-quero - Foto do autor


O quero-quero ou abibe-do-sul, também conhecido por tetéu, téu-téu, terém-terém e espanta-boiada, é uma ave da ordem dos Charadriiformes, pertencendo a família dos Charadriidae. Mede 37 centímetros de comprimento e pesa cerca de 277 gramas. É uma ave típica da América do Sul, sendo encontrado desde a Argentina e leste da Bolívia até a margem direita do baixo Amazonas e principalmente no Rio Grande do Sul. Habita as grandes campinas úmidas e os espraiados dos rios e lagoas. Sua voz, interpretada por quero-quero no Brasil, ou tero-tero pelos povos de língua hispânica, tem lhe valido o nome popular.
Possui um esporão pontudo, ósseo, com um centímetro de comprimento no encontro das asas, uma faixa preta desde o pescoço ao peito e ainda umas penas longas (penacho) na região posterior da cabeça, tem um desenho chamativo de preto, branco e cinzento na plumagem. A íris e as pernas são avermelhadas. O esporão é exibido a rivais ou inimigos com um alçar de asa ou durante o voo.
Alimenta-se de invertebrados aquáticos e peixinhos que encontra na lama. Para capturá-los, ele agita a lama com as patas para provocar a fuga de suas presas. Também se alimenta de artrópodes e moluscos terrestres.
Na primavera, a fêmea põe normalmente de três a quatro ovos. Nidifica em uma cavidade esgravatada no solo; os ovos têm formato de pião ou pera, forma adequada para rolarem ao redor de seu próprio eixo e não lateralmente, sendo manchados, confundindo-se perfeitamente com o solo. Quando os adultos são espantados do ninho, fingem-se de feridos ou, com grande alarido, caminham em direção oposta, a fim de desviar dali o inimigo; o macho quando ameaçado torna-se agressivo até mesmo a um homem, atacando-o com rasantes. Os filhotes são nidífugos: capazes de abandonar o ninho quase que imediatamente após o descascamento do ovo.
Atingem a maturidade sexual aos dois anos de idade. Embora fazendo pequenas migrações, quando se agrupam adultos e juvenis, o quero-quero é considerado uma ave sedentária.
Costuma viver em banhados e pastagens; é visto em estradas, campos de futebol e próximo a fazendas, frequentemente longe d'água. O quero-quero é sempre o primeiro a dar o alarme quando algum intruso invade seus domínios. É uma ave briguenta que provoca rixa com qualquer outra espécie habitante da mesma campina. As capivaras tiram bom proveito da convivência com o quero-quero, pois, conforme a entonação, o grito dessa ave pode significar perigo. Então os grandes roedores procuram refúgio na água.
Essa característica faz do quero-quero um excelente cão de guarda, sendo utilizado por algumas empresas que possuem seu parque fabril populado por estas aves. 
O gaúcho tem o quero-quero na conta de amigo porque seus gritos em noite alta lhe dão alarme, prestando, destarte, ótimos serviços de polícia rural.
Sem dúvida alguma, o quero-quero se constitui numa ave que tem merecido por parte de todos aqueles ligados à vida nos campos do Rio Grande, um sem-número de histórias ressaltando a sua valentia e a amizade que dedica aos peões. Citações em cantos, histórias, tradições, poemas e discursos famosos tornaram este pernalta uma lenda que ganhou grande significado para todos nós. Rui Barbosa, em 1914, incluiu-o num discurso célebre pela vivacidade maliciosa e originalidade da sátira, evocando a figura do Quero-Quero, o “Chantecler dos Potreiros”. Este pássaro curioso, a que a natureza concedeu o penacho da garça-real, o voo do corvo e a laringe do galo, tem, pela última dessas prendas, o dom de encher a solenidade dos descampados e sangas, das macegas e camadas com o grito estrídulo, retumbante, profundo, onde o gênio pitoresco dos gaúchos descobriu a fidelíssima onomatopeia que o batiza.
A evocação de suas qualidades e atributos tem merecido, ao longo dos anos, as mais vibrantes e significativas manifestações em versos e poemas, como Vargas Neto, Barbosa Lessa, Glaucos Saraiva, Valmor Valmórbida, Francisco Magalhães, Lauro Rodrigues e tantos outros ilustres poetas gaúchos.
Estas apreciações por si justificam de modo significativo a importância de ser o quero-quero, nosso "Sentinela dos Pampas", considerado como a ave símbolo de nosso folclore.

FONTES:

Oliveira, Roberto Gonçalves de. “As Aves-Símbolos dos Estados Brasileiros”, Porto Alegre, AGE, 2003. 180 p
http://www.wikiaves.com.br/quero-quero
http://dicionarioportugues.org/pt/espanta-boiada

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