domingo, 24 de junho de 2018

OS RESGUARDOS COM OS BEBES ANTIGAMENTE

Embora hoje exista uma parafernália de objetos e acessórios para os cuidados com os recém-nascidos, os mesmos não são tão bem resguardados como antigamente.
Para começar, ficavam aproximadamente um mês ou até quarenta dias (que chamavam “quarentena”) totalmente encerrados em um quarto, onde até as janelas eram protegidas com panos para evitar a luz forte e alguma corrente de ar que chamavam na época “vento encanado”.
As fraldas eram de tecido e precisavam ser lavadas e passadas com ferro a brasa, para evitar “cobreiros” (herpes, micoses ou alergias, ocasionadas pelo contato de cobras, sapos, aranhas, marandovás ou pequenos insetos, que passavam sobre as roupas no quarador ou na cerca).
Para a urina não vazar usavam, no início, sacos de plásticos cortados nos cantos por onde enfiavam as pernas da criança. Posteriormente, surgiram as ditas “calças de matéria” (espécie de cuequinha de plástico com elásticos nos furos para as pernas e a cintura). Essas calças plásticas eram macias e frágeis, duravam pouco tempo e vinham de vários números de acordo com o tamanho da criança.
Para proteger o umbigo dos recém-nascidos, antigamente confeccionavam um pequeno acolchoado de pano recheado com lã ou algodão, de formato retangular, com uma tira tipo cadarços costurado em cada ponta, chamados de “Umbigueiros”. Colocavam a parte acolchoada sobre o curativo do umbigo e os cadarços amarrados na cintura. Essas tiras trespassavam nas costas e eram amarradas sobre a barriguinha para que a amarra não ficasse desconfortável quando a criança estivesse deitada de costas.
Antigamente as roupas das crianças eram de tecido leve, onde os mais usados eram algodão, morim e pelúcia.
A criança ficava sempre enrolada em panos que chamavam de “cueiros” e mantilhas. Isso, além de agasalhar, mantinha a criança firme para carregar no colo, pois eram raras as famílias que possuíam carrinho de bebê.
Para o banho das crianças era montada uma verdadeira operação, cheia de estratégias. Para começar, escolhiam a hora mais quente do dia. Aqueciam água em chaleiras e colocavam numa temperatura morna, em princípio, em gamelas feitas, geralmente com tronco de corticeira, por ser uma madeira macia e leve. Alguns tempos depois, surgiram as bacias de lata, (que chamavam “bacia folha”). A temperatura ideal da água para o banho das crianças era observada molhando as costas da mão para evitar que estivesse quente demais.
Nos primeiros meses, as crianças alimentavam-se basicamente do leite materno. Quando as mães produziam pouco leite, tomavam mate de leite com funcho para aumentar a lactação.
Se mesmo assim, ainda não provessem o suficiente, as crianças tomavam leite de vaca fervido em mamadeiras de vidro ou pequenas garrafas, que nos primeiros meses era enfraquecido com chá de macela, erva doce, funcho ou então com água de arroz. A água de arroz era extraída do cozimento de um pouco de arroz sem sal e sem gordura exclusivamente para esse fim. O tipo de mistura dependia de como funcionava o intestino da criança e de qual provocava menos cólicas.
Os antigos tomavam sempre o cuidado de não vacinar ou banhar a vaca do leite das crianças no mesmo dia do resto do gado. Só medicavam ou banhavam a vaca leiteira algumas semanas depois, quando já tivesse outra livre de qualquer medicamento para ser ordenhada.
Antigamente, o varal era usado para colocar charque ou linguiça, as roupas secavam nos alambrados (cerca) do pátio. As roupinhas do recém-nascido eram recolhidas sempre antes da noite enquanto a criança não fosse apresentada para a lua. Para isso, existia uma oração que variava de região para região.
Era costume antigo apresentar a criança para lua para que tivesse uma vida tranquila e, enquanto não fosse apresentada, evitavam que suas roupinhas ficassem no varal quando a lua surgisse. Essa simpatia que também pode ser considerada benzedura, era para que a lua abençoasse e desse uma vida tranquila à criança.
O “mal de sete dias ou mal do umbigo”, acontece justamente no período em que o umbigo do recém-nascido leva para desprender-se (cair o umbigo como diziam).
Ainda acontece em partos feitos em casa, com utilização de métodos antigos, o uso de procedimentos que são tecnicamente considerados de risco que é o uso de terra, pó de café ou teia de aranha para cicatrizar o umbigo. Esses métodos antigamente eram considerados eficientes, para acelerar a cicatrização. Na verdade de todos os métodos antigos que se tem conhecimento, o mais eficaz sempre foi limpar bem a área do umbigo com água morna ou com um chá de erva doce, funcho ou maçanilha.
É normal o recém-nascido ter a pele meio amarelada nos primeiros dias, o que chamavam antigamente de “amarelão”. O remédio que os antigos usavam para curar esse mal era o chá da raiz de salsa.
Hoje, na troca dos dentes de leite, pela dentadura definitiva, as crianças costumam pedir para a “fadinha do dente” lhes trazer uma boa dentição, mas antigamente não era assim e toda a fé era direcionada para São João.
A cada dente que caía, a criança ficava de costas para a casa e fazia a seguinte oração, três vezes antes de jogá-lo por sobre o ombro, em cima do telhado ou quincha da casa.
“São João, São João... Tome este dente podre e me dê um são”.

FONTE:

Moreira, Severino Rudes. “Os chás e a fé: chás, simpatias, crenças, costumes, benzeduras”. Porto Alegre, Martins Livreiro, 2015.120 p.

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