Baile na Serra da Hulha - Ilustração Hipólito Moraes
Certa feita, dois cueras que moravam no corredor dos Ritta inventaram de ir num baile na Serra da Hulha. De tardezita, depois de um dia escaldante na lavoura, voltaram para casa, tomaram um banho de açude ajeitado, passaram um amor gaúcho e se tocaram estrada afora na direção do fandango. Nesse tempo, para não sujar a indumentária, os índios tinham o costume de guardar suas pilchas enroladas entre os pelegos e iam “furando mundo” só de cueca, em cima do lombo do cavalo. Já com as pernas tapadas de espuma do suor do cavalo, chegaram ao rancho velho, se vestiram e entraram no baile. Foi botar o pé no salão, o gaiteiro velho saltou uma vaneira baguala e os dois não se aguentaram de comichão nos pés, campearam uma prenda e se atracaram a chacolear o mondongo. Eita, porqueira! O salão ficou lotado e logo subiu a polvadeira que os brancos chegaram a ficar marrons de tanto pó. O pessoal estava todo animado. Teve cuera que chegou a perder o taco da bota de tanto bailar. Lá pelo meio do baile, depois de enjoarem de tanto dançar, e já sentindo o efeito da canha, resolveram aprontar.
Primeiramente, um deu um jeito de apagar o lampião, enquanto o outro tratava de colocar uma folha de umbu daquelas bem laxantes no barril de água e uma bosta fresca de vaca no meio do salão. Depois que acenderam o lampião, foi uma bagunça só: era uns cuera com os pés todo cagados e outros pulando janela, voando porta afora, campeando um mato pra largar um barro mole. E, para fechar com chave de ouro essa arte, os dois cueras afrouxaram as rodas das carretas que conduziam as moças, e desapresilharam as rédeas das montarias dos homens. Quando chegou o final do baile foi aquele rebuliço: carretas desgovernadas, moças voando, cavalos saindo em disparada ou corcoveando tipo bicho.
FONTES:
Lopes, Cássio Gomes. “Batendo Tição – Causos de Gauchadas”, Bagé, Pallotti, 2016. 131 p.
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