O combate do Seival (10.09.1836) na Revolução Farroupilha, vencido pelos republicanos, entre as tropas de Antônio de Souza Netto e João da Silva Tavares, que ensejou a proclamação da efêmera república rio-grandense, trouxe lances épicos e excepcionais, próprios de um meio bárbaro e de uma época violenta, que expressava uma natureza indômita e ainda selvagem.
Logo que as duas forças se defrontaram, cada uma delas despejou suas “clavinas”, com um duplo trovão da mais impressionante ressonância. Mas, depois desta salva inicial, não houve mais fogo algum: a arma branca, tão somente ela, é que foi chamada a decidir a sorte do encontro.
Aos seus, Netto havia bradado com homérica energia “camaradas! Não quero ouvir um tiro mais... à carga, à espada e à lança”!
Na peleja corpo a corpo, o resultado também foi favorável aos farroupilhas, mas com muitos sacrifícios.
No entrevero, de lança em riste, com seu braço hercúleo, abria claros entre os adversários, que atacava de forma corajosa, o heroico legalista Pedro José Nunes, tido e havido como a primeira lança de sua época. Ornava ainda o seu caráter, não apenas a coragem indômita, mas uma bondade cavalheiresca. Na força rebelde achava-se Marcelino Nunes, seu primo, valente como ele, íntimos amigos, e inseparáveis companheiros nas guerras anteriores a 1825 (Cisplatina).
Pedro José lastimava a falta de Marcelino, que sempre lhe despertou o valor e, este desejava encontrar-se com Pedro para medir qual deles era o mais valente. Na derrota legalista, Pedro José Nunes se retirava blasfemando cercado pelo inimigo, e só fustigava o cavalo quando alguém se aproximava para lanceá-lo.
Aos gritos de “aqui vai Pedro Nunes”, Marcelino Nunes se aproximou, mandou abrir o cerco para não pelear sem espaço, e carregou contra o antigo amigo, para logo tombar, varado pela lança dele.
A lança de Pedro José Nunes, com haste de ferro, entortou perto da folha e vinha ele procurando endireitá-la sobre a cabeça do lombilho, dominando o inimigo com o olhar, quando foi, inesperadamente, atingido por uma bala. E assim, acabaram em poucos segundos os dois leões das refregas farroupilhas.
Outra versão indica que Pedro José Nunes boleou o cavalo de Marcelino que, em consequência, cuspiu da sela o consumado ginete que teria caído de pé, mas perdeu a lança; desembainhou, então a espada, desviou os golpes recebidos até que lhe quebraram a lâmina junto aos copos. Indefeso, foi lanceado no peito, com morte instantânea. Pedro José Nunes ia em busca dos seus, quando também, caiu varado por uma bala, e assim, quase ao mesmo tempo, tombaram os dois primos e valentes soldados que a vida e a guerra pôs em campos antagônicos.
FONTE:
LOPES, João Máximo. “Habilidades Campeira nas Guerras do Sul”, Camaquã, Núcleo de Pesquisas Históricas de Camaquã, 2012. 125 p.
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