domingo, 24 de junho de 2018

CURANDO TERNEIRO

Ilustração de Aristeu Valério Trassante


Adão Molina tem uma chácara no Corredor dos Molina, no interior de Candiota. Em janeiro de 1990, foi dar uma recorrida no campo, revisar o gado. Depois de alguns minutos, ao passar por perto de um chircal, avistou uma vaca que acabara de dar cria. Fazia um calorão bárbaro e era seu dever curar o umbigo do terneiro para evitar futura bicheira. A vaca era uma novilha de primeira cria, criada desde pequena na volta do tambo. Devido a esse fato, Adão teve a convicção de que o serviço seria executado com facilidade. Ingênuo engano! Toda fêmea quando se torna mãe se transforma. O instinto materno sempre falou mais alto que o costume e não foi diferente nesse dia. No momento que Adão apeou da égua e chegou perto do terneiro, a vaca deu um bufo e investiu com imensa fúria em sua direção. Num ato de puro reflexo, o homem conseguiu segurar, por alguns segundos, as aspas da vaca, mas sua bravura não foi suficiente para impedir que aquela mascarada colorada, reluzindo de gorda, lhe jogasse feito um pano por cima de uns pés de chirca. Quando a situação parecia piorar, a cuscada sentiu o perigo e se atracaram de unhas e dentes na vaca, fazendo com que o animal se afastasse, oportunidade em que Adão disparou e conseguiu montar novamente na sua tordilha. Ah, se não fossem seus cuscos, o que seria de seu Adão? Como diziam os mais antigos: “Gaúcho no campo não é nada sem cachorro, pois qualquer guaipeca bem treinado vale mais do que três peões”. Essa história por sorte teve um final feliz e serviu de exemplo para todos que, independente de qual animal seja, com mãe não se brinca.

Fonte:

Lopes, Cássio Gomes. “Batendo Tição – Causos de Gauchadas”, Bagé, Pallotti, 2016. 131 p.

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