quarta-feira, 20 de junho de 2018

O PIO- PIO DO TICO-TICO DAS CAPOEIRAS DE PIRATINI


Borges de Medeiros comandou o governo do Rio Grande do Sul por 25 anos. A região norte foi a grande responsável por sua longa permanência no poder.
Com a revolução de 1923 e a insatisfação latente das alas oposicionistas o poder de Borges de Medeiros começou a declinar. O “Pacto de Pedras” pôs fim a “Era Borges” cessando os movimentos revolucionários, impedindo-o de continuar disputando o cargo de presidente do estado.
Em fins de 1927, Getúlio Vargas foi eleito para ocupar a governança do estado, tomando posse no dia 21 de janeiro de 1928. 1
Em março do mesmo ano, Assis Brasil convocara uma convenção da Aliança Libertadora marcada para ser realizada em Bagé, constituindo-se num acontecimento político da maior repercussão, especialmente na zona formada pelos municípios de Piratini, Pinheiro Machado, Canguçu, Erval do Sul, Pelotas, Caçapava e Dom Pedrito, pela pequena distância que separava esses municípios daquela que serviria de sede ao congresso.
Para esse memorável encontro, os dirigentes da Aliança Libertadora haviam convidado um grande número de lideranças políticas oposicionistas, inclusive de outros estados, extraordinários oradores que, para Bagé seguiram em caravanas, a fim de prestigiarem o acontecimento. Dentre tantas caravanas, se destacava a representação de Piratini.
Nessa oportunidade, e nessas circunstâncias, o Partido Libertador foi fundado.
Durante o congresso, os oradores anunciados pelo apresentador eram comparados a pássaros cantadores. Coisa mais ou menos como sucede com os proprietários de circos, quando anunciam seus artistas:
“E agora, senhoras e senhores, teremos a oportunidade de escutar o trinar da patativa do norte, na voz extraordinária do fulano de tal, insigne político, representante do estado tal”. E, em seguida, anunciando outro dizia: “E agora, caros congressistas, terão oportunidade de escutar o cantar da graúna do estado tal, na palavra empolgante do nobre deputado fulano de tal, líder do bravo estado tal”.
E, nesse andar, o apresentador continuou a anunciar os oradores seguintes, alguns reconhecidamente famosos, sempre os comparando com pássaros canoros, como patativas, graúnas, rouxinóis, até que a enorme lista se esgotasse. Era de praxe, ao final, antes de encerrar os trabalhos, oferecer a palavra a quem dela quisesse fazer uso. Foi então que, lá do fundo da plateia, um homenzinho baixo, magro, feio e de óculos, levantou-se de sua cadeira e falou: “Peço a palavra, senhor presidente”.
Houve um movimento generalizado do plenário repleto. Todos dirigiram seus olhares para aquela figura esquisita, sentada em uma das últimas fileiras.
Era Tertuliano de Leon, integrante da delegação de Piratini, um rábula inteligentíssimo, que costumava discursar, recitar e cantar. E assim começou seu discurso:
“Depois de termos nos deleitado com o mavioso trinar da patativa do norte, na palavra de fulano de tal; depois de termos escutado o rouxinol dos campos do estado tal, na palavra do ilustre deputado beltrano, depois deste plenário ter ouvido com encantamento jamais igualado o entoar da graúna dos trigais, no falar do bravo companheiro sicrano, peço licença para que, por apenas alguns minutos, escutem, também o pio-pio do tico-tico das capoeiras do município de Piratini”.
Não é preciso dizer que ele levantou toda a plateia e foi, por ela, o mais aplaudido de todos os oradores daquele tão lembrado congresso. 2

FONTES:
1  Brandt, Aline. “De Borges a Getúlio: A trasnformação política nas páginas de O Nacional”. Universidade de Passo Fundo. 2008. Dissertação de pós-graduação. 119 páginas. Disponível em:  https://secure.upf.br/pdf/2008AlineBrandt.pdf
2  Duarte, José Bacchieri. “100 Anos da Política Brasileira – E a influência exercida pelas lideranças do Rio Grande do Sul no século XX”, Pelotas, Editora Universitária/UFPel, 1996. 586 p.

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