segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

HOMEM EUCALIPTO

 O nome eucalipto deriva do grego: eu (= bem) e kalipto (= cobrir), referindo-se a estrutura arredondada de seu fruto em formato de cálice, o qual protege bem as suas sementes. É uma árvore nativa da Austrália, doTimor e da Indonésia, sendo exótica em todas as outras partes do mundo. Possui mais de 700 espécies reconhecidas botanicamente. Foi introduzida no Brasil em 1868, quando as primeiras mudas da planta chegaram ao Rio Grande do Sul. No entanto, só em 1950, passa a ser plantado para fornecer matéria-prima para o abastecimento das fábricas de papel e celulose.

 A região da Campanha Gaúcha é repleta de centenas de imensas áreas florestadas com essa planta. Quem já teve a oportunidade de acompanhar o processo de crescimento  de algum bosque de eucaliptos plantado com pequeno espaçamento entre as mudas, sabe muito bem como a espécie se comporta. Inicialmente a planta até convive bem com as demais; mas, à medida que cresce e ganha altura vai impossibilitando com que o sol ilumine a vegetação menor a seu redor. Sem luminosidade, arbustos, ervas e pastos acabam morrendo. Além disso, a espécie desconfigura e encobre as particularidades do terreno.

Em nossa sociedade, nos seus mais variados ramos, existem muitos homens que agem da mesma forma que eucalipto: no começo, até convivem bem com seus semelhantes; mas, conforme crescem, exaltam-se. Procuram ofuscar e abafar o próximo, pois ninguém pode lhes fazer sombra. Só eles devem ser vistos, lembrados e elogiados.

O que fazer então com esses “homens eucaliptos”?

Apenas orar para que o Supremo Criador tenha misericórdia deles, pois:

“Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes” (Tiago 4:6).

“Porquanto qualquer que a si mesmo se exaltar será humilhado, e aquele que a si mesmo se humilhar será exaltado” (Lucas 14:11).

 

Fontes:

http://www.remade.com.br/br/revistadamadeira_materia.php?num=20

http://www.agrocursos.org.br/pdf/Silvicultura.pdf

 

 

 

sábado, 2 de novembro de 2019

Teixeirinha & Mary Teresinha – De Bagé para o mundo


A imagem acima foi clicada pelo fotógrafo Antônio Candiota, quando Teixeirinha se apresentou no Cine Glória, em 4 de abril de 1963. Oportunidade em que o artista conheceu Mary Teresinha e iniciou a dupla

Mary Teresinha Cabral Brum, a “Mary Teresinha” nasceu em Tupanciretã no dia 30/03/1946. Filha de Euclides do Nascimento Brum e Wilma Cabral Brum.
Aos quatro anos, mudou-se com a família para Pelotas, onde residiu até 1960. Nessa época, já floreava as primeiras notas no acordeom. Posteriormente, veio a residir com a família em Bagé, onde estudou no IMBA (Instituto de Belas Artes).
Em abril de 1963, Teixeirinha chegara a Bagé para se apresentar no Cine Glória. Gravara "Coração de Luto" no ano anterior e estava “estourado” em todo o Brasil. Mary, com apenas 15 anos, era famosa em Bagé e região por tocar as canções do “rei do disco” na Rádio Cultura. O apelido, “Teixeirinha de saias”, não deixava dúvidas sobre o talento da menina.
Quando Teixeirinha estava para realizar seu segundo show na Rainha da Fronteira, uma multidão ensandecida aguardava o ídolo. Há pouco, ele saíra do anonimato para tornar-se o maior fenômeno de vendas da história da música gaúcha. A menina Mary Teresinha, decidida a assistir à apresentação do cantor, era mais uma das tantas pessoas que lotariam o Cine Glória naquela noite de quatro de abril de 1963. A diferença é que Mary se tornaria – em poucas horas – parte daquele show.
Antes do início da apresentação, ocorreria um concurso para premiar com um mil-réis, quem melhor tocasse as músicas de Teixeirinha no acordeom. Mary inscreveu-se na disputa, afinal, se vencesse poderia ajudar seus pais nas despesas daquele mês. Tocando “Briga no batizado”, a guria magrinha, de cabelos negros e compridos, conquistou o público e arrebatou o primeiro lugar. Depois do concurso, Dirceu Mendes, diretor da Rádio Cultura, chamou Mary e avisou que o gaiteiro de Teixeirinha (na época Ademar Silva) havia perdido o ônibus e não chegaria para a apresentação. Mary acompanharia Teixeirinha.
Em poucos minutos, Mary conheceu seu ídolo, fez um breve ensaio, subiu ao palco e levou os mil e seiscentos espectadores do show ao êxtase. Certamente, aquilo nunca acontecera nas apresentações de Teixeirinha. Um talento local ao lado do grande cantor! Dali pra frente, formava-se a dupla Teixeirinha & Mary Teresinha, talvez o mais famoso dueto da história do estado do Rio Grande do Sul.
Juntos, Teixeirinha e Mary gravaram mais de 70 LP’s e um número incontável de discos 78RPM. A dupla atuou ainda em 12 filmes, sempre nos papéis principais. Mary foi cigana, estudante, iemanjá… Mas sempre foi Mary Teresinha. Seu talento na gaita aumentou com o passar dos anos. Em pouco tempo, ela passou a ser responsável por grande parte da produção dos discos de Teixeirinha, preparando arranjos e auxiliando no aprimoramento das composições do astro.
A partir de meados da década de 1960, iniciaram-se as gravações dos primeiros desafios, que se tornariam uma febre no Rio Grande do Sul inteiro. Agora, era a voz de Mary que se revelava. As “trovas” (como ficaram conhecidas) traziam verdadeiras guerras entre o casal. Mas no fim, tudo acabava na reconciliação dos dois.
A relação entre Teixeirinha e Mary Teresinha acabou ultrapassando o campo profissional: eles mantiveram uma união também fora dos palcos. Esta união, que durou 22 anos, gerou dois filhos – Alexandre e Liane. Juntos, Teixeirinha e Mary percorreram os mais longínquos recantos das Américas, cantando, brincando e levando mais alegria a seus milhares de fãs.
Em 1983, a relação entre os dois passou por dificuldades, resultando no fim da dupla. Separaram-se tanto artística como afetivamente. Embora a imprensa tenha tratado o assunto com certo sensacionalismo, sabemos que os desentendimentos são comuns em qualquer situação. Sendo assim, não caberia fazermos qualquer juízo de valores sobre a separação.
O importante mesmo foi o legado que a dupla deixou em sua longa carreira. Depois da separação, ambos continuaram produzindo. Teixeirinha prosseguiu em carreira solo até falecer, em 1985. Mary, entretanto, percorreu alguns países, gravou novos gêneros e, no início dos anos 1990, converteu-se à doutrina evangélica. Em 1992, escreveu o livro “A gaita nua” – sua autobiografia. Como cantora gospel seguiu fazendo sua “safoninha chorar” pelo Rio Grande afora. Atualmente, ela ministra palestras em igrejas evangélicas, onde conta seu testemunho de conversão e canta os louvores de seus quatros discos: “Serva de Deus”, “Quando eu abro essa sanfona”, “Minha jornada” e “A serviço do Rei”.
Num balanço sobre as carreiras de Teixeirinha e Mary Teresinha, alguns poderiam se arriscar a dizer que ele não precisava da acordeonista para alcançar o sucesso – como, de fato, ocorreu no princípio. Contudo, parece certo que, sem aquela menina da gaita, a carreira de Teixeirinha teria deixado de ter um toque especial. Numa de suas últimas entrevistas à televisão, Mary declarou algo que parece sintetizar tudo o que aqui falamos: “Aquela dupla formou um quadro: ele [Teixeirinha] foi a pintura; eu [Mary Teresinha] fui a moldura!”.

Fontes:
Teresinha, Mary “A gaita nua – Autobiografia”, Porto Alegre, Rígel, 1992.128p.

O BEIJO DO FORTE DE SANTA TECLA


O beijo é uma demonstração de afeto e carinho mais antiga da face da terra. Tirando os de paixão e de amor, existem vários outros tipos de beijos.
Antigamente, costumava-se beijar as mãos dos mais velhos em sinal de respeito. Durante os namoros, beijar, só em pensamentos. Esse ato tão natural nos dias de hoje, só era permitido, após o sim no altar.
Algumas pessoas mais velhas costumavam (e costumam) beijar alguém mais novo do sexo oposto com tanto frenesi, que os deixavam ora babados, se fossem homens, ora marcados de batom, se fossem mulheres.
Também era comum, um homem beijar a mão da mulher, jovem ou não, em sinal de admiração e cavalheirismo.
Além disso, é hábito até os dias atuais, beijar com extremo carinho, os bebês e crianças pequenas. No entanto, alguns exageram na dose, ao ponto das crianças comentarem com seus pais ou responsáveis: “O tio (ou tia) tem beijo babado”. Alguns pequenos, não conseguem disfarçar o desconforto desse beijo “molhado” e o limpam na hora.
Sem dúvida o beijo mais famoso da história, foi o que Judas deu em Jesus, antes de entregá-lo as autoridades romanas, para ser condenado à morte.
Em Bagé também houve um inusitado beijo que marcou época, não referido até 2012, inclusive, pelos amantes da história da Rainha da Fronteira. O fato aconteceu durante o cerco ao Forte espanhol de Santa Tecla.  As tropas, luso-rio-grandenses comandadas por Rafael Pinto Bandeira chegaram à fortificação em 18/02/1776. As primeiras tratativas de entrega do reduto se deram ao final da primeira semana do cerco, entre o capelão português e o capelão espanhol.  
Em outro encontro, ocorrido em 10/03/1776, o próprio Bandeira e o capitão Luiz Ramires, comandante do forte, ficaram frente a frente, aí acontecendo o episódio mais constrangedor da vida das campanhas militares daquele homem sagaz. O próprio caudilho português conta: “Logo que nos topamos, o primeiro cortejo foi dos abraços, depois três beijos, dois nas faces e um nos beiços, cumprimento que a primeira vez que vejo”.
Para o pesquisador pinheirense Artêmio Vaz Coelho, Rafael Pinto Bandeira foi o primeiro gaúcho sul-rio-grandense, porque reunia todas as qualidades para isso, pois além de ter nascido aqui, também foi estancieiro, grande líder, exímio estrategista militar e valente guerreiro.
O constrangimento é patente se considerarmos que o beijo na boca passou também a representar uma espécie de contrato entre o senhor feudal e o seu vassalo. Era algo como “dou minha palavra”. Os burgueses adotaram o beijo na face como sinal de saudação; os nobres usavam o beijo na boca para o mesmo fim.
Interessante que para duas personagens da nossa história de ascendência ibérica, a aparente naturalidade de um, no caso o espanhol, e o embaraço do outro, no caso o português, causasse neste último tamanha reminiscência.
A favor da sua surpresa, o ato do capitão sitiado pode ter sido facilitado pela baixa estatura de Rafael, como sempre é retratado nas pinturas.
Com todos esses atributos, dá para imaginar o quanto fora embaraçoso para Rafael o beijo que levou de Ramires, diante dos seus comandados perfilados em pleno pampa gaúcho.

Fontes:

LOPES, Cássio Gomes (LUCAS, Edgard Lopes); "Cerros de Baye – Santa Tecla – Origens de Bagé", Bagé, LEB, 2012.
 MARTINEZ. João Flávio Martinez. “A História do Beijo e as Religiões”, Set/2011, http://www.cacp.org.br/a-historia-do-beijo-e-as-religioes/
MONTEIRO, Germano Campos; "O Beijo", Porto, Imprensa Civilização, 1921.




FERNANDO MACHADO



Fernando Machado de Sousa nasceu no dia 11 de janeiro de 1822, na cidade de Desterro, capital da Província de Santa Catarina. Filho do Capitão Manoel Machado de Sousa e Dona Josefa Bernardina de Sousa. Viveu a infância entre gente do Mar na Armação de Itapocoroi.
Estudou nessa capital de província em um colégio mantido pelos padres jesuítas, buscando os rudimentos de uma carreira útil a si e a sociedade.
Fernando Machado de Sousa foi um militar que só teve tempo para ser militar. E, como Luiz Alves de Lima e Silva (O Duque de Caxias), de quem foi comandado muitas vezes, nunca saiu da legalidade.
Com 16 anos incompletos, em 09 de novembro de 1838, sentou praça no Corpo Provisório de Desterro, como 1º Cadete. Não existe a equivalência com o que se chama hoje de Cadete, tanto assim que, depois no dia 1º de fevereiro de 1839, foi promovido à graduação de 2º Sargento. E subiu a escalada da carreira onde alcançou a culminância de herói militar, galgando degrau por degrau com aplicação, inteligência e sensibilidade: foi um militar mesmo e jamais um homem fardado.
O seu batismo de fogo foi contra os farroupilhas no combate de Imaruí, em Santa Catarina, em 09 de novembro de 1839. Era Sargento-ajudante e muito interessado na carreira militar. Quando em seguida participou na operação defensiva de São José do Norte, RS, atacado pelos farroupilhas de Bento Gonçalves, já era alferes e estava servindo no Batalhão da Serra. E no contingente militar comandado pelo Barão de Caxias, lutou em São Paulo e em Minas Gerais, nos focos inflamados pelo idealismo do Movimento Liberal de 1842.
No Rio Grande do Sul, tomou parte ainda contra os farroupilhas de David Canabarro nos combates de Ponche Verde (26/05/1943 - Dom Pedrito) e Porongos (14/11/1944 - Pinheiro Machado) e foi dos muitos oficiais da guarnição de Alegrete, onde comandou a tropa da legalidade o desassombrado Coronel Arruda.
Estava com 26 anos incompletos quando foi promovido ao posto de Capitão, em 02 de Dezembro de 1847. Permutou com outro capitão a transferência do Batalhão e seguiu para a guarnição militar do Rio de Janeiro. Todavia, de lá foi transferido para Minas Gerais, onde ficou até novembro de 1849.
No inicio da Guerra do Paraguai, estava no comando de um batalhão, com febre palustre, e baixou para tratamento. Retornou ao teatro de operações como tenente-coronel e foi comandar a 11ª Brigada de Infantaria, do 2º Corpo do Exército, em Curuzu.
Observando-se todas as manifestações da sua bravura, a partir de Curuzu, tem-se o roteiro do heroísmo que o levou a entrar para a história.
Curuzu, Passo da Pátria, Tuiuti (nesta foi ferido com gravidade, porém afastou-se apenas o necessário para os curativos); prosseguiu o roteiro: Potreiro Pires (lá uma bala fura-lhe o boné e raspa-lhe o couro cabeludo); continua e participa destacadamente, na operação da Linha Sauce; depois vem Curupaiti e Humaitá. E avançando como lhe competia avançar, chega comandando a 5ª Brigada de Infantaria às margens do rio Itororó; e comandando os batalhões de voluntários, avançando a exemplificar como Chefe, cai ferido, agora mortalmente, já depois de ter atravessado a ponte, em seis de dezembro de 1868, aos 46 anos.
O Coronel Fernando Machado de Sousa possuía as seguintes condecorações: Medalha da Campanha do Uruguai: as dignidades; Cavalheiro de São Bento de Aviz, Cavalheiro da Rosa e Hábito do Cruzeiro.
Pela sua bravura e heroísmo em defesa da pátria, foi homenageado com nome de rua na Capital Gaúcha e em Bagé; e também nas cidades catarinenses de Chapecó e Lages. Além disso, seu nome denomina o 63º Batalhão de Infantaria de Florianópolis, em Santa Catarina, do qual é patrono desde 1986.

Fontes:
DONATO, Ernani. “Dicionário de Batalhas Brasileiras”, São Paulo: IBRASA, 1996. 596p.
Jornal Minuano, Coluna especial "Conheça sua cidade" 1999.




DR. BRÁS MACHADO


Brás Coronel Machado nasceu em Bagé no dia 12 de julho 1926. Filho de Valdemar Amoretty Machado e Genny Coronel Machado.
Fez seus primeiros estudos com a professora D. Leopoldina, que lecionava na Escola Melanie Granier. Frequentou primeiramente a Escola São Luiz Gonzaga, do professor Pery Coronel Machado, seu tio, onde cursou o antigo científico. Após, concluiu o ginásio no Colégio Nossa Senhora Auxiliadora.
Depois, foi para Porto Alegre onde se formou em Medicina pela Universidade do Rio Grande do Sul (URGS), pós-graduando-se posterirormente no Hospital de Clínicas de São Paulo. Especializando-se na área de ginecologia e obstetrícia, inicialmente atuando em Novo Hamburgo; posteriormente, em Bagé a partir de 1955.
Contemporâneo de outros colegas: Jesus Ollé Vives, Joaquim Pedro Gaffrée e Antônio Fayad.
Foi funcionário do antigo INAMPS, sempre muito dedicado à profissão, clinicando por quase quatro décadas.
Em 15 de dezembro de 1958, casa-se com Maria Miranda Barcellos, professora, produtora rural e musicista, com a qual teve os filhos: Eduardo, Brás e José.
Quando contraiu núpcias, conviveu por dois anos na residência dos sogros, na mansão dos Barcellos, de Bernardino Vaz Barcellos, apelidado “Seu Bulica” e sua esposa Helena Miranda Barcellos. Esta casa que foi, em tempos mais recentes, a Casa Krause e, hoje, ocupada pelo Grupo JW, esquina Marcílio Dias com Bento Gonçalves foi construída por Nepomuceno Saraiva em 1912. 
Dr. Brás teve atuação nos hospitais de Bagé e, em muitos outros lugares, dentre os quais, onde hoje é a lateral da Câmara de Vereadores, entrada pela rua Senador Salgado Filho, ao lado do Banco Itaú, no mesmo ambiente do advogado Otávio Santos, os quais se revezavam; bem como, no Edifício Trás-os-Montes e, também, no Amélia Kalil.
Tinha estilo discreto e calmo para lidar com os anseios da saúde humana.
Adorava futebol, tendo sido goleiro do Ginásio Auxiliadora, do Ferroviário e dos Liberais, este formado por médicos, odontólogos e advogados.
Era torcedor ferrenho do Guarany Futebol Clube, colaborando muito com o clube, do qual foi presidente.  
Foi médico das entidades Associação Atlética Banco do Brasil (AABB), Bagé Tênis Clube e Cantegril Clube de Bagé, onde se realizavam exames de praxe dos sócios que permitiam usufruírem dos banhos de piscina.
Pertencente a uma das mais tradicionais famílias bajeenses, chamava a atenção pelo jeito simples e despojado de atender seus pacientes, o chamado “espírito humanitário” e generosidade no atendimento dos pacientes; pois muitas vezes, além de prescrever a medicação, ainda alcançava o dinheiro àqueles menos favorecidos.
Igualou dita profissão a um verdadeiro sacerdócio! Por sua vez, a esposa acima referida, teve seus méritos, pois, durante vários anos acompanhou e se submeteu, a despertar no meio da noite, para proporcionar ao marido a tranquilidade dos plantões médicos e chamados de urgência, como aqueles provenientes do então serviço intitulado “SAMDU” - Serviço de Assistência Médica Domiciliar e de Urgência da Previdência Social, cujo motorista era “Roberto Gatto”.
O filho Brás Barcellos Machado, recorda que o atual Vice-presidente da República, um dia, há mais de 40 anos, lhe falou: “O teu pai, o ‘tio Brás’, é uma excelente pessoa e um médico que muito bem tratou da saúde de minha mãe” [chamada Wanda Coronel Martins Mourão]. O termo ‘tio’ seria devido ao fato da mãe do militar Antônio Hamilton Martins Mourão ser prima do médico em questão. Uma expressão muito peculiar do renomado médico era dizer: “Está tudo otimamente ótimo”!
Como político, pertenceu ao MDB e PFL, tendo concorrido a vereador pelas duas legendas.
Faleceu em 06 de fevereiro de 1994, aos 68 anos, deixando a esposa e filhos. 
O legislativo municipal outorgou uma rua (antiga via pública n° 482) em sua homenagem no bairro Maurício Infantini Filho (Morgado Rosa) através lei n° 3.314/96.
A partir de 1955, se fizéssemos uma revisão estatística ou científica do número de pessoas nascidas -bajeenses- pelas mãos do referido médico e um dos únicos atuando na área da ginecologia e obstetrícia, teríamos, nada menos, do que algumas dezenas de milhares de cidadãos nascidos do apoio deste profissional. Essa observação deve-se pela exclusividade e brilhantismo de sua competência profissional e esmero praticado em vida. Considerando que a grande maioria dos médicos hoje atuantes na cidade sequer eram nascidos.
Fontes:
Depoimento de Brás Barcellos Machado que agradece ao articulista acima e a Edgard Lopes Lucas pelo apoio, estima e colaboração.
Câmara de Vereadores de Bagé
Jornal Correio do Sul – ano 1990
Jornal Minuano, Coluna especial “Conheça sua cidade”, 20 de maio de 1999.



HIPÓLITO LUCENA


Hipólico Brissac Lucena nasceu em Bagé, em 03 de março de 1901. Filho de Joaquim Pereira de Lucena e Adelaide Brissac de Lucena. Estudou na cidade de Pelotas, formando-se pela Faculdade de Direito no dia 14 de dezembro de 1936.
Atuou no Fórum de Bagé mais de 25 anos. Casou-se no dia 23 de dezembro de 1934 com a professora Jenny Brissac Garcez, com quem teve o filho Hipólito Garcez de Lucena. Hipólito, além de advogado, era um exímio artista plástico, tendo pintado varias obras das quais se destacam: "Canto de Mesa" que mereceu menção honrosa apresentada no 1° Salão Bageense de Artes Plásticas, e "Lavanderia" que conquistou o prêmio Medalha de Bronze no 2° Salão Bageense de Artes Plásticas. Notabilizou-se também como poeta e escritor, publicando os seguintes livros: Festa no Inferno entre Vivos e Mortos (Verso – 1927); Saudades (Sonetos – 1932); Instantâneos (Verso – 1948); Ferro Velho - Poema sobre um Cão (1954); Tio Ventura - Poema Regional (1958) e Meus Pagos - Versos Regionais (1961).
Teve ainda inédito e não publicado quatro cadernos, sendo três de Poemas e Crônicas, e um de Fardos e Ditos Gaúchos.
Como poeta, compôs as letras dos hinos às cidades de Bagé e Pelotas e o do Clube Recreativo Brasileiro, da cidade de Bagé.
Faleceu em Bagé 03 janeiro de 1971, deixando um inestimável legado cultural para a Rainha da Fronteira Pelos seus relevantes serviços prestados à comunidade bageense, em 1973, seu nome foi imortalizado em uma rua no Bairro Getúlio Vargas, através de um projeto de lei de autoria do então vereador Iolando Machado.

Fontes:
Garcia, Elida Hernandes. "Escritores Bageenses", Bagé, Editora Praça da Matriz, 2006.232 p.
Jornal Minuano, Coluna especial “Conheça sua cidade” 1999.


O GAÚCHO E AS ESTRELAS


Desde o mais longínquo passado, os homens contemplam as estrelas. Representações de constelações foram encontradas em vários sítios pré-históricos espalhados pelo mundo.
De fato, não é surpreendente que os homens tenham-se fascinado pelos céus. Todos nós experimentamos esse entusiasmo de nos sentirmos parte do cosmos quando olhamos um céu estrelado. Os padrões aparentemente imutáveis desenhados pelas estrelas e a sua aparição regular no céu ao longo do ano, em contraste com os fenômenos sempre em mutação da Terra, constituíram tanto um refúgio, quanto uma referência para os seres humanos.
Os padrões atribuídos às estrelas mais brilhantes visíveis no céu são, claro, fruto da imaginação humana. Não somente o significado mitológico, mas até mesmo a maneira com que as linhas imaginárias são desenhadas entre as estrelas podem diferir de uma cultura para outra.
No Rio Grande do Sul, os gaúchos tem profunda afeição pelo Cruzeiro do Sul, que dá a sensação de que o estado recebeu uma faixa a meia-espalda, como uma premiação da natureza. Queridas dos gaúchos, em especial dos saudosos da querência, são as Três Marias, que sempre unidas, na disposição de um coração, irradiam suas luzes candentes, iluminando as estradas. Mas, indubitavelmente, a grande companheira do gaúcho é a Estrela D’Alva, conhecida carinhosamente pelo sulino como Estrela Boieira, guia inconteste dos boiadeiros.
Essa estrela surge no horizonte ao anoitecer, acompanhando os carreteiros que buscavam os chamados “pousos”. Nas longas jornadas; água na cacimba para os bois e cavalos de montaria, atar os bois no pasto, preparar um fogo de chão, um churrasco, uma cama de pelegos sobre os arreios. Os pingos espreitavam atados nas chavelhas das carretas, sobre o lume da estrela boieira. Era a fiel companheira na lida com os bois. O carreteiro dormia e a estrela boieira recolhia-se ao seu infinito. Na madrugada, sob a cantiga dos galos, ao longe, na retomada das lidas do carreteiro ou tropeiro, surgia no horizonte a assídua companheira. No nascente, como a preludiar o nascimento do sol. Sempre alva, como o pensamento de cuidado das mães ausentes.
A Estrela Boeira (na verdade, Planeta Vênus) foi e é tão importância histórica e culturalmente para os rio-grandenses, que se transformou num dos símbolos do tradicionalismo gaúcho e foi eternizada através da música de mesmo nome, através dos versos do cantor e compositor gaúcho Telmo de Lima Freitas:
“Estrela boieira, sinuelo da noite/Que mostra ao tropeiro o rumo a seguir/A noite se prancha nas barras do dia/E a estrela boieira começa a sumir. Se muda pra outra invernada do fundo/Sem deixar o rastro pra onde se foi/O dia já claro, o tropeiro canta/Ao som do mugido da tropa de boi. Os bichos do campo festejam o dia/Quebrando o silêncio do amanhecer/O tropeiro canta sua toada tropeira/Lembrando a boieira do seu bem-querer”.
O tempo passou e os novos meios de transporte acabaram sepultando as carreteadas e tropeadas. Porém, a admiração do gaúcho pelas estrelas permaneceu inabalável, que elas até hoje lhes servem de referência.

 Fontes:
Lamberty, Salvador Fernando. “ABC do Tradicionalismo Gaúcho”, Martins Livreiro, 1989.146 p.