terça-feira, 1 de outubro de 2013

EXPEDIÇÃO PEDRA DE TORRINHAS, PINHEIRO MACHADO-RS

                                                                                  Pedra de Torrinhas

Jackeline da Rosa Moreira e sua amiga Mirce Pazinato Ribeiro planejavam conhecer a região de Torrinhas, interior de Pinheiro Machado há alguns meses. Vasculhando o território através do Google Earth, encontraram alguns locais por mim mapeados. Jackeline conseguiu me contatar através do Facebook, e me solicitou ajuda para guiá-las até a Pedra de Torrinhas. Não sou vaqueano daquela região, mas sou amigo de um grande conhecedor daqueles pagos, o historiador Artêmio Vaz Coelho. Quando entrei em contato com ele, soube que se encontrava em Porto Alegre e que, em princípio, não poderia nos acompanhar porque tinha compromisso bem no dia da expedição. Porém seu espírito de pesquisador falou mais alto e decidiu guiar-nos pelos campos da segunda zona de Pinheiro Machado. Do centro da antiga Cacimbinhas, Artêmio e eu partimos em direção ao Cerro do Papilete, onde ele possui propriedade. De Caçapava, as gurias pegaram a estrada às oito horas da manhã e após seis horas de viagem e mais de cem quilômetros rodados, passando pelo interior de Santana da Boa Vista, atravessando a balsa sobre o Rio Camaquã, se encontraram conosco às quinze horas. Depois de deixarmos as mochilas no quartel-general ao pé do Cerro do Papilete, nos tocamos até a Pedra de Torrinhas.              
Após alguns minutos, chegamos ao vale do Velhaco, lugar repleto de cerros, chapadas e rochedos das mais variados tamanhos, cortados por sangas que deságuam no Arroio Velhaco. Dentre tantos acidentes naturais bonitos, destaca-se, imponente no meio do vale, a Pedra de Torrinhas, com sua estrutura que parece brotar em cima de um cerro. 

                          Pedra de Torrinhas parece brotar em cima de um Cerro - Vale do Velhaco

Ficamos tão fascinados com esta bela rocha que, até o entardecer fotografamos a mesma pelos mais variados ângulos. 

                                 Eu e o Artêmio ao pé da magnifica rocha "emoldurados" pelo céu e lua.
                                                                                    Sombra da pedra

                                        Eu e Artêmio explicando para Jackeline as origens da região

Quando o sol enfim se pôs, nos tocamos para nosso QG, onde sorvemos um amargo junto ao fogão a lenha trocando ideias, contando causos e histórias, enquanto seu Artêmio preparava um “arroz de china pobre” para jantarmos. Logo que amanheceu, encontrei as gurias tomando um chimarrão e as convidei para desbravarmos o Cerro do Papilete. Além do cerro, depois de me apartar delas, visitei a caleira e tapera do Papilete, italiano que deu origem ao nome daquela região. 

                                                           Caleira (forno de queimar cal) do Papilete

                                                                              Tapera do italiano Papilete


Quando retornei “pras casa”, encontrei o Artêmio tomando café. Recolhemos nossos pertences, pegamos a estrada e fomos conhecer o Cemitério dos Cativos. As gurias foram novamente até a Pedra de Torrinhas, enquanto nós seguimos em frente em direção à Vila de mesmo nome. No caminho visitamos o local onde foram executados alguns negros pós-revolução de 1893. 
Enquanto clicava paragens encontramos dois conhecidos que retornavam de uma campeirada com seus cavalos suados e cuscos de língua de fora. Já na Vila de Torrinhas, além do cemitério, avistamos o hospital, os antigos bolichos e onde outrora fora uma farmácia. Já era passado do meio dia e eu estava seco de sede. Então o Artêmio bateu na casa de um conhecido, justamente para pedir um copo de água. O dono estava almoçando e nos convidou para comermos, mas meu amigo agradeceu. Enquanto a conversa entre os dois prosseguia, minha fome aumentava. E quando o dono da casa me convidou novamente para almoçar, não resisti e comi um peixe cozido, arroz e polenta. Após me alimentar, agradeci ao seu Luís pela hospitalidade. 

                                                                                    Vila de Torrinhas

Da vila pegamos a estrada rumo ao Cerro dos Porongos. Chegando lá encontramos as gurias junto ao marco do movimento negro. Dali, as levamos para o marco alusivo ao combate farroupilha travado em 1844, onde nosso vaqueano contou um pouco da história do local. Mostrou um capão de mato ao pé do cerro, do qual corre um pequeno arroio, local mais provável para o acampamento farroupilha comandado por Davi Canabarro. Ao retornarmos para a estrada, fizemos a última parada no Marco da Guarda Velha, no qual foi assim denominado em virtude de ali ter existido uma guarda fronteiriça do tempo do Tratado de Idelfonso, lá pelas idos de 1777. Nesse local nos despedimos das gurias que pegaram a BR e se foram a Caçapava. Eu, por minha vez, retornei a Bagé. Com esta expedição realizei um sonho antigo, conhecer a região de Torrinhas, lugar fascinante, de belezas naturais sem igual, onde se podem avistar animais silvestres e ainda encontrar parte do bioma pampa conservado. Tudo isso somente foi possível graças ao convite das “papa laranjas” Jackeline e Mirce e pelo empenho do historiador Artêmio Vaz Coelho em nos guiar com maestria pelos campos da segunda zona de Pinheiro Machado e por sua acolhida hospitaleira junto ao pé do Cerro do Papilete.

                         Artêmio, eu, Mirce e Jackeline em frente ao "QG" ao pé do Cerro do Papilete