sábado, 2 de novembro de 2019

Teixeirinha & Mary Teresinha – De Bagé para o mundo


A imagem acima foi clicada pelo fotógrafo Antônio Candiota, quando Teixeirinha se apresentou no Cine Glória, em 4 de abril de 1963. Oportunidade em que o artista conheceu Mary Teresinha e iniciou a dupla

Mary Teresinha Cabral Brum, a “Mary Teresinha” nasceu em Tupanciretã no dia 30/03/1946. Filha de Euclides do Nascimento Brum e Wilma Cabral Brum.
Aos quatro anos, mudou-se com a família para Pelotas, onde residiu até 1960. Nessa época, já floreava as primeiras notas no acordeom. Posteriormente, veio a residir com a família em Bagé, onde estudou no IMBA (Instituto de Belas Artes).
Em abril de 1963, Teixeirinha chegara a Bagé para se apresentar no Cine Glória. Gravara "Coração de Luto" no ano anterior e estava “estourado” em todo o Brasil. Mary, com apenas 15 anos, era famosa em Bagé e região por tocar as canções do “rei do disco” na Rádio Cultura. O apelido, “Teixeirinha de saias”, não deixava dúvidas sobre o talento da menina.
Quando Teixeirinha estava para realizar seu segundo show na Rainha da Fronteira, uma multidão ensandecida aguardava o ídolo. Há pouco, ele saíra do anonimato para tornar-se o maior fenômeno de vendas da história da música gaúcha. A menina Mary Teresinha, decidida a assistir à apresentação do cantor, era mais uma das tantas pessoas que lotariam o Cine Glória naquela noite de quatro de abril de 1963. A diferença é que Mary se tornaria – em poucas horas – parte daquele show.
Antes do início da apresentação, ocorreria um concurso para premiar com um mil-réis, quem melhor tocasse as músicas de Teixeirinha no acordeom. Mary inscreveu-se na disputa, afinal, se vencesse poderia ajudar seus pais nas despesas daquele mês. Tocando “Briga no batizado”, a guria magrinha, de cabelos negros e compridos, conquistou o público e arrebatou o primeiro lugar. Depois do concurso, Dirceu Mendes, diretor da Rádio Cultura, chamou Mary e avisou que o gaiteiro de Teixeirinha (na época Ademar Silva) havia perdido o ônibus e não chegaria para a apresentação. Mary acompanharia Teixeirinha.
Em poucos minutos, Mary conheceu seu ídolo, fez um breve ensaio, subiu ao palco e levou os mil e seiscentos espectadores do show ao êxtase. Certamente, aquilo nunca acontecera nas apresentações de Teixeirinha. Um talento local ao lado do grande cantor! Dali pra frente, formava-se a dupla Teixeirinha & Mary Teresinha, talvez o mais famoso dueto da história do estado do Rio Grande do Sul.
Juntos, Teixeirinha e Mary gravaram mais de 70 LP’s e um número incontável de discos 78RPM. A dupla atuou ainda em 12 filmes, sempre nos papéis principais. Mary foi cigana, estudante, iemanjá… Mas sempre foi Mary Teresinha. Seu talento na gaita aumentou com o passar dos anos. Em pouco tempo, ela passou a ser responsável por grande parte da produção dos discos de Teixeirinha, preparando arranjos e auxiliando no aprimoramento das composições do astro.
A partir de meados da década de 1960, iniciaram-se as gravações dos primeiros desafios, que se tornariam uma febre no Rio Grande do Sul inteiro. Agora, era a voz de Mary que se revelava. As “trovas” (como ficaram conhecidas) traziam verdadeiras guerras entre o casal. Mas no fim, tudo acabava na reconciliação dos dois.
A relação entre Teixeirinha e Mary Teresinha acabou ultrapassando o campo profissional: eles mantiveram uma união também fora dos palcos. Esta união, que durou 22 anos, gerou dois filhos – Alexandre e Liane. Juntos, Teixeirinha e Mary percorreram os mais longínquos recantos das Américas, cantando, brincando e levando mais alegria a seus milhares de fãs.
Em 1983, a relação entre os dois passou por dificuldades, resultando no fim da dupla. Separaram-se tanto artística como afetivamente. Embora a imprensa tenha tratado o assunto com certo sensacionalismo, sabemos que os desentendimentos são comuns em qualquer situação. Sendo assim, não caberia fazermos qualquer juízo de valores sobre a separação.
O importante mesmo foi o legado que a dupla deixou em sua longa carreira. Depois da separação, ambos continuaram produzindo. Teixeirinha prosseguiu em carreira solo até falecer, em 1985. Mary, entretanto, percorreu alguns países, gravou novos gêneros e, no início dos anos 1990, converteu-se à doutrina evangélica. Em 1992, escreveu o livro “A gaita nua” – sua autobiografia. Como cantora gospel seguiu fazendo sua “safoninha chorar” pelo Rio Grande afora. Atualmente, ela ministra palestras em igrejas evangélicas, onde conta seu testemunho de conversão e canta os louvores de seus quatros discos: “Serva de Deus”, “Quando eu abro essa sanfona”, “Minha jornada” e “A serviço do Rei”.
Num balanço sobre as carreiras de Teixeirinha e Mary Teresinha, alguns poderiam se arriscar a dizer que ele não precisava da acordeonista para alcançar o sucesso – como, de fato, ocorreu no princípio. Contudo, parece certo que, sem aquela menina da gaita, a carreira de Teixeirinha teria deixado de ter um toque especial. Numa de suas últimas entrevistas à televisão, Mary declarou algo que parece sintetizar tudo o que aqui falamos: “Aquela dupla formou um quadro: ele [Teixeirinha] foi a pintura; eu [Mary Teresinha] fui a moldura!”.

Fontes:
Teresinha, Mary “A gaita nua – Autobiografia”, Porto Alegre, Rígel, 1992.128p.

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