A imagem acima foi clicada pelo fotógrafo Antônio Candiota, quando Teixeirinha se apresentou no Cine Glória, em 4 de abril de 1963. Oportunidade em que o artista conheceu Mary Teresinha e iniciou a dupla
Mary Teresinha
Cabral Brum, a “Mary Teresinha” nasceu em Tupanciretã no dia 30/03/1946. Filha
de Euclides do Nascimento Brum e Wilma Cabral Brum.
Aos quatro anos,
mudou-se com a família para Pelotas, onde residiu até 1960. Nessa época, já
floreava as primeiras notas no acordeom. Posteriormente, veio a residir com a
família em Bagé, onde estudou no IMBA (Instituto de Belas Artes).
Em abril de 1963,
Teixeirinha chegara a Bagé para se apresentar no Cine Glória. Gravara
"Coração de Luto" no ano anterior e estava “estourado” em todo o
Brasil. Mary, com apenas 15 anos, era famosa em Bagé e região por tocar as canções
do “rei do disco” na Rádio Cultura. O apelido, “Teixeirinha de saias”, não
deixava dúvidas sobre o talento da menina.
Quando
Teixeirinha estava para realizar seu segundo show na Rainha da Fronteira, uma
multidão ensandecida aguardava o ídolo. Há pouco, ele saíra do anonimato para
tornar-se o maior fenômeno de vendas da história da música gaúcha. A menina
Mary Teresinha, decidida a assistir à apresentação do cantor, era mais uma das
tantas pessoas que lotariam o Cine Glória naquela noite de quatro de abril de
1963. A diferença é que Mary se tornaria – em poucas horas – parte daquele
show.
Antes do início
da apresentação, ocorreria um concurso para premiar com um mil-réis, quem
melhor tocasse as músicas de Teixeirinha no acordeom. Mary inscreveu-se na
disputa, afinal, se vencesse poderia ajudar seus pais nas despesas daquele mês.
Tocando “Briga no batizado”, a guria magrinha, de cabelos negros e compridos, conquistou
o público e arrebatou o primeiro lugar. Depois do concurso, Dirceu Mendes, diretor
da Rádio Cultura, chamou Mary e avisou que o gaiteiro de Teixeirinha (na época
Ademar Silva) havia perdido o ônibus e não chegaria para a apresentação. Mary
acompanharia Teixeirinha.
Em poucos
minutos, Mary conheceu seu ídolo, fez um breve ensaio, subiu ao palco e levou
os mil e seiscentos espectadores do show ao êxtase. Certamente, aquilo nunca
acontecera nas apresentações de Teixeirinha. Um talento local ao lado do grande
cantor! Dali pra frente, formava-se a dupla Teixeirinha & Mary Teresinha,
talvez o mais famoso dueto da história do estado do Rio Grande do Sul.
Juntos,
Teixeirinha e Mary gravaram mais de 70 LP’s e um número incontável de discos
78RPM. A dupla atuou ainda em 12 filmes, sempre nos papéis principais. Mary foi
cigana, estudante, iemanjá… Mas sempre foi Mary Teresinha. Seu talento na gaita
aumentou com o passar dos anos. Em pouco tempo, ela passou a ser responsável
por grande parte da produção dos discos de Teixeirinha, preparando arranjos e
auxiliando no aprimoramento das composições do astro.
A partir de
meados da década de 1960, iniciaram-se as gravações dos primeiros desafios, que
se tornariam uma febre no Rio Grande do Sul inteiro. Agora, era a voz de Mary
que se revelava. As “trovas” (como ficaram conhecidas) traziam verdadeiras
guerras entre o casal. Mas no fim, tudo acabava na reconciliação dos dois.
A relação entre
Teixeirinha e Mary Teresinha acabou ultrapassando o campo profissional: eles
mantiveram uma união também fora dos palcos. Esta união, que durou 22 anos,
gerou dois filhos – Alexandre e Liane. Juntos, Teixeirinha e Mary percorreram
os mais longínquos recantos das Américas, cantando, brincando e levando mais
alegria a seus milhares de fãs.
Em 1983, a
relação entre os dois passou por dificuldades, resultando no fim da dupla.
Separaram-se tanto artística como afetivamente. Embora a imprensa tenha tratado
o assunto com certo sensacionalismo, sabemos que os desentendimentos são comuns
em qualquer situação. Sendo assim, não caberia fazermos qualquer juízo de
valores sobre a separação.
O importante
mesmo foi o legado que a dupla deixou em sua longa carreira. Depois da
separação, ambos continuaram produzindo. Teixeirinha prosseguiu em carreira
solo até falecer, em 1985. Mary, entretanto, percorreu alguns países, gravou
novos gêneros e, no início dos anos 1990, converteu-se à doutrina evangélica.
Em 1992, escreveu o livro “A gaita nua” – sua autobiografia. Como cantora
gospel seguiu fazendo sua “safoninha chorar” pelo Rio Grande afora. Atualmente,
ela ministra palestras em igrejas evangélicas, onde conta seu testemunho de
conversão e canta os louvores de seus quatros discos: “Serva de Deus”, “Quando
eu abro essa sanfona”, “Minha jornada” e “A serviço do Rei”.
Num balanço
sobre as carreiras de Teixeirinha e Mary Teresinha, alguns poderiam se arriscar
a dizer que ele não precisava da acordeonista para alcançar o sucesso – como,
de fato, ocorreu no princípio. Contudo, parece certo que, sem aquela menina da
gaita, a carreira de Teixeirinha teria deixado de ter um toque especial. Numa
de suas últimas entrevistas à televisão, Mary declarou algo que parece
sintetizar tudo o que aqui falamos: “Aquela dupla formou um quadro: ele
[Teixeirinha] foi a pintura; eu [Mary Teresinha] fui a moldura!”.
Fontes:
Teresinha, Mary “A gaita nua – Autobiografia”, Porto Alegre, Rígel, 1992.128p.
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