sábado, 2 de novembro de 2019

ALFEU DUARTE



Alfeu Coelho Duarte nasceu em 07 de setembro de 1942, na Bolena, interior de Hulha Negra, na época município de Bagé. Filho de João Lima Duarte e Sebastiana Coelho Duarte.
            Quando pequenino, morou um tempo em Seival. Aos sete anos, perdeu sua mãe. Um ano após, foi morar aos cuidados de Luiz Chirivino e sua esposa Flaubiana Mendes Chirivino, na estância destes, localizada em Dario Lassance. Ali, então, começou a aprender e criar gosto pelas lidas campeiras.
            Em 1956, concluiu o ginásio na Escola Isolada de Dario Lassance (atual Escola Estatual de Ensino Fundamental de Dario Lassance).
            Prestou serviço militar no 12º Regimento de Cavalaria, na cidade de Bagé, incluído no ano de 1961, encerrando suas atividades após um ano devido à importância de sua presença na estância, ainda mais necessária após o falecimento de Luiz Chirivino.
            Em 05 de março de 1969, contrai matrimônio com Aldema Rijo Duarte e foram morar na casa construída por ele, junto à estância onde tiveram três filhos: Fábio, Flaviani e Fernanda.
            Sua principal atividade sempre foi as lidas de campo e afins. Esteve sempre à frente dos cuidados da estância, mas foi após o falecimento do genro de Luiz Chirivino que a viúva Glede Chirivino Amestoy e seus filhos Airton e Afrânio Amestoy tomaram a decisão de renomear o lugar como Condomínio Rural Telmo Amestoy, realizado em 24 de dezembro de 1990, e o colocaram como administrador. A partir disso, único responsável por todos os cuidados e tratativas das terras e animais da propriedade.
            Na vida social, foi grande entusiasta e de participação ímpar ao que se refere a cultura gaúcha, desde a criação do primeiro CTG do município de Candiota, o CTG Os Maragatos em 1960, onde era um dos membros da patronagem e integrante da invernada artística. CTG este que, em 1966, com a construção da sua primeira sede própria, passou então a chamar-se CTG Luiz Chirivino em gratidão à família pela doação do terreno.
Na década de 1970, iniciou sua grande e reconhecida trajetória no meio tradicionalista como patrão do CTG, junto a sua inseparável esposa Aldema, sempre dedicada e que nunca mediu esforços para estar junto dele, trabalhando incansavelmente para atingirem seus objetivos. Patrão que trouxe grupos musicais de renome no estado como Os Monarcas, Os Serranos, Os Mirins, realizando grandes bailes. Neste cargo, permaneceu por várias vezes até a realização do grande sonho que foi a construção do atual prédio da entidade inaugurado em 01 de setembro de 1989, objetivo alcançado com muita dedicação, esforço e trabalho com o apoio de muitos amigos, companheiros do CTG e empresas da região.
Muitas foram as conquistas neste meio, sempre com o apoio de pessoas que fizeram a diferença ao seu lado.  Dentre as várias realizações, destaca-se a criação da campeira do CTG, que realizou vários rodeios, que levaram o nome da entidade e do município a diversos lugares. Tornando o CTG Luiz Chirivino reconhecido por sua organização e qualidade dos rodeios realizados em Candiota que reuniam centenas de pessoas sendo um dos eventos mais importantes do município por vários anos.
Após ficar algum tempo afastado dos cargos, mas, nunca de compromissos, eventos e atividades; retornou ainda algumas vezes para o cargo de patrão, mas foi no ano de 2001 a sua última gestão, quando entregou as rédeas desta entidade para seu cunhado Jorge Luiz Rijo.
Além do tradicionalismo, destacou-se também em outros ramos de nossa sociedade, podendo citar:
·         Em 1985, foi ator da peça de teatro João Campeiro Vida e Paixão de autoria de Apparicio Silva Rillo sobre a direção de Rubens de Oliveira (Rubinho). Ele representava o peão João Campeiro, peça que contava com um elenco composto por várias pessoas da localidade, na maioria jovens e que teve um enorme prestígio com várias apresentações na região.
·         Em 1989, foi decretado subprefeito de Dario Lassance, pelo então prefeito de Bagé Luiz Simão Kallil, sempre incansável para cumprir com a missão designada da melhor maneira. Em tempos muitos difíceis, não mediu esforços em lutar e buscar realizar as necessidades locais, por exemplo, as vezes em que ele próprio abriu buracos pelas ruas das vilas para resolver algum tipo de problema para a população como: encanamentos furados, vazamentos, etc. Ser humano com um coração imenso que nunca deixou sem auxílio alguém que o procurasse, mesmo que isso significasse resolver com recursos próprios.
·         Foi estofador, em suas horas extras, e muitos foram os trabalhos impecáveis que fazia e era muito reconhecido por seu capricho e perfeição.
·         Foi membro do CPM da escola de Dario Lassance.
·         Foi presidente da Comunidade Católica de Dario Lassance.
·         Foi integrante da comissão de emancipação do Município de Candiota.
·         Palestrante em diversos eventos, inclusive escolas para os quais era convidado para compartilhar seus conhecimentos sobre nossa cultura gaúcha.
·         Por duas vezes foi candidato a vereador pelo município de Candiota.
·         Em 2005, fez parte do governo do município de Candiota como assessor executivo na Secretaria Municipal de Agropecuária e Agricultura Familiar.
            Em 14 de abril de 2007, decidiu ir morar em Santa Maria, perto de seus filhos e netos. Com seu carisma, simpatia e humildade, em pouco tempo já havia conquistado na vizinhança e redondezas inúmeros amigos e, para estes, fez questão de mostrar seu amor pela nossa tradição, suas histórias e feitos contados, animava os que então já o chamavam carinhosamente de “Patrão”.
Por épocas de Semana Farroupilha, expondo sua paixão, ele montou uma ramada na frente da casa com direito a fogo de chão, chimarrão, música e como não podia deixar de faltar, exibia com orgulho a bandeira do Rio Grande do Sul, hasteada em um mastro de madeira confeccionado por ele mesmo como peça fundamental do lugar. Ali ele passava o dia pilchado, recebendo os amigos curiosos e surpresos, encantados com a beleza e ousadia do gaúcho. Tomava chimarrão, contava causos e fazia comidas típicas para agradar as visitas e os familiares que também chegavam pilchados e ali permaneciam e até bailavam. Quando o tempo não ajudava, a festança era realizada em seu galpão nos fundos da casa, com seu fogão a lenha, construído também por ele, tudo movido à prosa, declamações, danças e muitas brincadeiras, momentos inesquecíveis e de muita felicidade onde ele pode externar e ensinar principalmente aos netos, seus conhecimentos e amor pela tradição.
E as comemorações dos dias 7 de setembro, tão conhecidas em Candiota, que chegavam a ser um dos momentos mais esperados no ano por familiares, amigos e simpatizantes, data em que se realizavam as marcações, tiro de laço, futebol, tudo com um grande churrasco oferecido a todos. Em Santa Maria, embora sem as lidas de campo, as festividades dessa data continuaram a acontecer, familiares e amigos vinham em tal número que, em certa feita, foi preciso até montar barracas pelo pátio para acomodar todo mundo. Festa que chegou a durar um final de semana inteiro e sempre tudo valeu a pena para comemorar o seu aniversário, estar junto e fazer a felicidade daquele que sempre acumulou amigos, defensor da família, prestativo com todos, afetivo e carinhoso com os mais íntimos; um ser humano com tantas qualidades que ficaria extenso relacioná-las.
Incontáveis foram as homenagens e reconhecimentos que ele teve por todos os seus feitos, realizados por prendas, peões, patronagens sucessoras e outras entidades, dentre as quais podemos destacar:
- Homenagem como Patrão do CTG e Patrão da Campeira do CTG Luiz Chirivino – realizada pelos seus companheiros com uma pedra fixada próxima à pista de rodeios em 12/1993.
- Destaque tradicionalista - realizado pelo Clube Recreativo Candiota – no baile dos destaques do município em 10/1994.
- Diploma de consagração pública como Patrão de CTG Destaque - realizado pelo Instituto de Pesquisas Futtura – em 08/2002.
- Prêmio “Quem faz pela cultura” – realizado pelo CCTG Lanceiros da Liberdade em 09/2006.
- Diploma de Honra ao Mérito pelos 50 anos do CTG Luiz Chirivino – Semana Farroupilha em 09/2016.
Em uma declaração feita a sua terapeuta ocupacional quando a doença já tinha avisado que o tempo estava acabando, ele contou: “na época em que descobri que estava com câncer, decidi tirar a vida, pois sabia que seriam tempos de muito sofrimento não só pra mim, como também para minha família e eu não queria isso. Só não realizei porque houve um despertar, vindo do meu neto mais novo, então eu vi que era preciso vencer, viver, que ninguém tem direito a tirar a vida, porque algo maior do que nós é que sabe a hora certa” e foi isso que ele fez.  A partir daí sua fé, sua força de sempre, seu destemor e amor veio à tona; e fizeram com que os momentos difíceis fossem superados. Viveu ainda mais intensamente com a família, aproveitou os netos e amigos para fazer farras e bagunças. Cuidar dos jardins da vizinhança como os de sua própria casa e sua horta, sempre com muito zelo e capricho; foi atividade que encontrou para distração e sair para pescar com o neto ou amigos, era o que fazia com tamanha felicidade e realização, que “parecia um guri” (como se descrevia em certos momentos).
            Mas, foi em 27 de agosto de 2017, durante a madrugada, que aos 74 anos de idade e após oito anos de luta contra a doença, em sua residência, junto a sua família, com humildade, mas com sua altivez de sempre, que a sua caminhada aqui na terra chegou ao fim. O dia amanheceu cinzento, sem cor, sem graça, por certo demonstrando como se sentiam os corações de todos aqueles que tiveram a honra de conviver e conhecer este ser humano que, onde quer que estivesse, sua presença fazia a diferença. Por certo, o dia representava o sentimento que se dividia entre o alívio em ter acabado o sofrimento daquele que tanto fez pelo seu semelhante, que tanto amou, com a certeza da tamanha falta que faria na vida de cada um. Ficam seus ensinamentos, momentos que ficarão na história do município de Candiota, do CTG Luiz Chirivino e, sem dúvida, as melhores lembranças na memória de todos que fizeram parte de suas proezas.
Seu corpo foi velado nas capelas do cemitério Santa Rita, estava pilchado a rigor, com seu lenço Maragato e no dia 28 de agosto, após a última homenagem ao som do hino rio-grandense, cremado no Crematório São José, em Santa Rosa. No dia 07 de setembro, os familiares liberaram suas cinzas no Rio Vacacaí, conforme sua vontade.
Alfeu deixou sua esposa Aldema; os filhos Fábio, Flaviani e Fernanda; os netos Filipe, Luísa, Isadora e Rafael; a nora Andréa; os genros Geovane e Marcus.



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