Alfeu Coelho Duarte nasceu em 07 de setembro de 1942, na Bolena, interior de Hulha Negra, na época município de Bagé. Filho de João Lima Duarte e Sebastiana Coelho Duarte.
Quando pequenino, morou um tempo em
Seival. Aos sete anos, perdeu sua mãe. Um ano após, foi morar aos cuidados de
Luiz Chirivino e sua esposa Flaubiana Mendes Chirivino, na estância destes,
localizada em Dario Lassance. Ali, então, começou a aprender e criar gosto
pelas lidas campeiras.
Em 1956, concluiu o ginásio na Escola
Isolada de Dario Lassance (atual Escola Estatual de Ensino Fundamental de Dario
Lassance).
Prestou serviço militar no 12º
Regimento de Cavalaria, na cidade de Bagé, incluído no ano de 1961, encerrando
suas atividades após um ano devido à importância de sua presença na estância,
ainda mais necessária após o falecimento de Luiz Chirivino.
Em 05 de março de 1969, contrai
matrimônio com Aldema Rijo Duarte e foram morar na casa construída por ele,
junto à estância onde tiveram três filhos: Fábio, Flaviani e Fernanda.
Sua principal atividade sempre foi as
lidas de campo e afins. Esteve sempre à frente dos cuidados da estância, mas
foi após o falecimento do genro de Luiz Chirivino que a viúva Glede Chirivino
Amestoy e seus filhos Airton e Afrânio Amestoy tomaram a decisão de renomear o
lugar como Condomínio Rural Telmo Amestoy, realizado em 24 de dezembro de 1990,
e o colocaram como administrador. A partir disso, único responsável por todos
os cuidados e tratativas das terras e animais da propriedade.
Na vida social, foi grande
entusiasta e de participação ímpar ao que se refere a cultura gaúcha, desde a
criação do primeiro CTG do município de Candiota, o CTG Os Maragatos em 1960,
onde era um dos membros da patronagem e integrante da invernada artística. CTG
este que, em 1966, com a construção da sua primeira sede própria, passou então a
chamar-se CTG Luiz Chirivino em gratidão à família pela doação do terreno.
Na
década de 1970, iniciou sua grande e reconhecida trajetória no meio
tradicionalista como patrão do CTG, junto a sua inseparável esposa Aldema,
sempre dedicada e que nunca mediu esforços para estar junto dele, trabalhando
incansavelmente para atingirem seus objetivos. Patrão que trouxe grupos
musicais de renome no estado como Os Monarcas, Os Serranos, Os Mirins,
realizando grandes bailes. Neste cargo, permaneceu por várias vezes até a
realização do grande sonho que foi a construção do atual prédio da entidade
inaugurado em 01 de setembro de 1989, objetivo alcançado com muita dedicação,
esforço e trabalho com o apoio de muitos amigos, companheiros do CTG e empresas
da região.
Muitas
foram as conquistas neste meio, sempre com o apoio de pessoas que fizeram a
diferença ao seu lado. Dentre as várias realizações,
destaca-se a criação da campeira do CTG, que realizou vários rodeios, que
levaram o nome da entidade e do município a diversos lugares. Tornando o CTG
Luiz Chirivino reconhecido por sua organização e qualidade dos rodeios
realizados em Candiota que reuniam centenas de pessoas sendo um dos eventos
mais importantes do município por vários anos.
Após
ficar algum tempo afastado dos cargos, mas, nunca de compromissos, eventos e
atividades; retornou ainda algumas vezes para o cargo de patrão, mas foi no ano
de 2001 a sua última gestão, quando entregou as rédeas desta entidade para seu
cunhado Jorge Luiz Rijo.
Além
do tradicionalismo, destacou-se também em outros ramos de nossa sociedade, podendo
citar:
·
Em 1985, foi ator da peça de teatro João
Campeiro Vida e Paixão de autoria de Apparicio Silva Rillo sobre a direção de
Rubens de Oliveira (Rubinho). Ele representava o peão João Campeiro, peça que
contava com um elenco composto por várias pessoas da localidade, na maioria
jovens e que teve um enorme prestígio com várias apresentações na região.
·
Em 1989, foi decretado subprefeito de
Dario Lassance, pelo então prefeito de Bagé Luiz Simão Kallil, sempre incansável
para cumprir com a missão designada da melhor maneira. Em tempos muitos difíceis,
não mediu esforços em lutar e buscar realizar as necessidades locais, por
exemplo, as vezes em que ele próprio abriu buracos pelas ruas das vilas para
resolver algum tipo de problema para a população como: encanamentos furados,
vazamentos, etc. Ser humano com um coração imenso que nunca deixou sem auxílio
alguém que o procurasse, mesmo que isso significasse resolver com recursos próprios.
·
Foi estofador, em suas horas extras, e
muitos foram os trabalhos impecáveis que fazia e era muito reconhecido por seu
capricho e perfeição.
·
Foi membro do CPM da escola de Dario
Lassance.
·
Foi presidente da Comunidade Católica de
Dario Lassance.
·
Foi integrante da comissão de
emancipação do Município de Candiota.
·
Palestrante em diversos eventos,
inclusive escolas para os quais era convidado para compartilhar seus
conhecimentos sobre nossa cultura gaúcha.
·
Por duas vezes foi candidato a vereador
pelo município de Candiota.
·
Em 2005, fez parte do governo do
município de Candiota como assessor executivo na Secretaria Municipal de
Agropecuária e Agricultura Familiar.
Em 14 de abril de 2007, decidiu ir morar
em Santa Maria, perto de seus filhos e netos. Com seu carisma, simpatia e
humildade, em pouco tempo já havia conquistado na vizinhança e redondezas inúmeros
amigos e, para estes, fez questão de mostrar seu amor pela nossa tradição, suas
histórias e feitos contados, animava os que então já o chamavam carinhosamente
de “Patrão”.
Por
épocas de Semana Farroupilha, expondo sua paixão, ele montou uma ramada na
frente da casa com direito a fogo de chão, chimarrão, música e como não podia
deixar de faltar, exibia com orgulho a bandeira do Rio Grande do Sul, hasteada
em um mastro de madeira confeccionado por ele mesmo como peça fundamental do
lugar. Ali ele passava o dia pilchado, recebendo os amigos curiosos e surpresos,
encantados com a beleza e ousadia do gaúcho. Tomava chimarrão, contava causos e
fazia comidas típicas para agradar as visitas e os familiares que também chegavam
pilchados e ali permaneciam e até bailavam. Quando o tempo não ajudava, a
festança era realizada em seu galpão nos fundos da casa, com seu fogão a lenha,
construído também por ele, tudo movido à prosa, declamações, danças e muitas
brincadeiras, momentos inesquecíveis e de muita felicidade onde ele pode externar
e ensinar principalmente aos netos, seus conhecimentos e amor pela tradição.
E
as comemorações dos dias 7 de setembro, tão conhecidas em Candiota, que chegavam
a ser um dos momentos mais esperados no ano por familiares, amigos e
simpatizantes, data em que se realizavam as marcações, tiro de laço, futebol,
tudo com um grande churrasco oferecido a todos. Em Santa Maria, embora sem as
lidas de campo, as festividades dessa data continuaram a acontecer, familiares
e amigos vinham em tal número que, em certa feita, foi preciso até montar
barracas pelo pátio para acomodar todo mundo. Festa que chegou a durar um final
de semana inteiro e sempre tudo valeu a pena para comemorar o seu aniversário,
estar junto e fazer a felicidade daquele que sempre acumulou amigos, defensor
da família, prestativo com todos, afetivo e carinhoso com os mais íntimos; um
ser humano com tantas qualidades que ficaria extenso relacioná-las.
Incontáveis
foram as homenagens e reconhecimentos que ele teve por todos os seus feitos,
realizados por prendas, peões, patronagens sucessoras e outras entidades, dentre
as quais podemos destacar:
- Homenagem como
Patrão do CTG e Patrão da Campeira do CTG Luiz Chirivino – realizada pelos seus
companheiros com uma pedra fixada próxima à pista de rodeios em 12/1993.
- Destaque
tradicionalista - realizado pelo Clube Recreativo Candiota – no baile dos destaques
do município em 10/1994.
- Diploma de
consagração pública como Patrão de CTG Destaque - realizado pelo Instituto de
Pesquisas Futtura – em 08/2002.
- Prêmio “Quem
faz pela cultura” – realizado pelo CCTG Lanceiros da Liberdade em 09/2006.
- Diploma de
Honra ao Mérito pelos 50 anos do CTG Luiz Chirivino – Semana Farroupilha em
09/2016.
Em
uma declaração feita a sua terapeuta ocupacional quando a doença já tinha
avisado que o tempo estava acabando, ele contou: “na época em que descobri que
estava com câncer, decidi tirar a vida, pois sabia que seriam tempos de muito
sofrimento não só pra mim, como também para minha família e eu não queria isso.
Só não realizei porque houve um despertar, vindo do meu neto mais novo, então eu
vi que era preciso vencer, viver, que ninguém tem direito a tirar a vida,
porque algo maior do que nós é que sabe a hora certa” e foi isso que ele
fez. A partir daí sua fé, sua força de
sempre, seu destemor e amor veio à tona; e fizeram com que os momentos difíceis
fossem superados. Viveu ainda mais intensamente com a família, aproveitou os
netos e amigos para fazer farras e bagunças. Cuidar dos jardins da vizinhança
como os de sua própria casa e sua horta, sempre com muito zelo e capricho; foi
atividade que encontrou para distração e sair para pescar com o neto ou amigos,
era o que fazia com tamanha felicidade e realização, que “parecia um guri”
(como se descrevia em certos momentos).
Mas, foi em 27 de agosto de 2017,
durante a madrugada, que aos 74 anos de idade e após oito anos de luta contra a
doença, em sua residência, junto a sua família, com humildade, mas com sua
altivez de sempre, que a sua caminhada aqui na terra chegou ao fim. O dia
amanheceu cinzento, sem cor, sem graça, por certo demonstrando como se sentiam
os corações de todos aqueles que tiveram a honra de conviver e conhecer este
ser humano que, onde quer que estivesse, sua presença fazia a diferença. Por
certo, o dia representava o sentimento que se dividia entre o alívio em ter
acabado o sofrimento daquele que tanto fez pelo seu semelhante, que tanto amou,
com a certeza da tamanha falta que faria na vida de cada um. Ficam seus
ensinamentos, momentos que ficarão na história do município de Candiota, do CTG
Luiz Chirivino e, sem dúvida, as melhores lembranças na memória de todos que
fizeram parte de suas proezas.
Seu
corpo foi velado nas capelas do cemitério Santa Rita, estava pilchado a rigor, com
seu lenço Maragato e no dia 28 de agosto, após a última homenagem ao som do
hino rio-grandense, cremado no Crematório São José, em Santa Rosa. No dia 07 de
setembro, os familiares liberaram suas cinzas no Rio Vacacaí, conforme sua
vontade.
Alfeu
deixou sua esposa Aldema; os filhos Fábio, Flaviani e Fernanda; os netos
Filipe, Luísa, Isadora e Rafael; a nora Andréa; os genros Geovane e Marcus.
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