A geladeira é
muito antiga nos lares mais abastados da campanha, mas é preciso observar os que
esta denominação não é sinônimo de refrigerador. As geladeiras eram uma espécie
de armários de madeira bem construídos com as portas vedadas e um compartimento
ou gaveta confeccionado em material galvanizado para colocar as barras de gelo que
eram compradas nas raras fábricas de gelo da cidade. A sua eficiência na
conservação de alimentos deixava muito a desejar, pois derretendo o gelo nela
colocado, terminava a sua capacidade de conservá-los. Ainda hoje, existem muitos
desses móveis servindo de decoração nas residências mais requintadas e em
museus como o de Colônia Nova, interior de Aceguá.
O refrigerador a
querosene, propriamente dito, começou a ter expressão a partir da segunda metade
da década de 1950; mesmo assim, a expressiva maioria das nossas residências não
o possuía; daí, a precariedade dos métodos usados para gelar as bebidas, por
exemplo; nas carreiras, nos bailes, nos casamentos, aniversários, marcações,
etc... Usava-se fazer um buraco no chão e colocar a bebida junto a barras de
gelo cobertas com muita serragem; muitas vezes nem gelo se conseguia o que
obrigava os carpeiros ou responsáveis pela bebida colocar somente água fresca
dentro de um barril ou dos mencionados buracos, onde mergulhavam as garrafas.
Apesar disso,
todas as pessoas bebiam alegremente sem reclamar disto ou daquilo.
Para a
conservação, especialmente de carnes, a fiambreira era um método muito empregado,
até os dias de hoje podemos constatar a presença de algumas espalhadas pela campanha
gaúcha. Trata-se de uma espécie de gaiola de tamanho variável com medidas
aproximadas de um metro de altura por mais ou menos oitenta por oitenta (0.80 x
0.80) centímetros de lado, fechada por todos eles com tela fina para evitar a
entrada de moscas. Dotada de uma porta vertical do tamanho de um lado inteiro e
a parte superior e a base inferior feitas de tábua sendo que, na parte superior
interna, eram colocados alguns ganchos para pendurar carnes, morcilhas, charque,
doces cristalizados e pêssegos para secar, etc... Essas fiambreiras, no verão,
eram penduradas na sombra das árvores do terreiro, onde a brisa é sempre fresca
e, por isso, mantinham a carne em boas condições por mais tempo e sem o risco
das moscas colocarem vareja; em muitos casos eram dotadas de um gradil feito de
caibros para colocar os queijos recém-saídos dos cinchos.
Para a
conservação de outros alimentos como o leite usava-se colocá-lo em garrafas de
vidro (não havia
o plástico) bem fechadas e acondicioná-las dentro de um balde e soltar para dentro
da água do poço ou cacimba com a corda e a roldana de puxar água, pois ali
mantinham-se numa temperatura extraordinária evitando que talhasse e ou
azedasse.
Os ovos eram
conservados imersos em água de cal.
As
apreciadíssimas linguiças desidratam em pouco tempo se não forem conservadas em
temperaturas abaixo de 10°C. Para mantê-las como se fossem feitas no dia, as
sábias mulheres gaúchas usavam cozinhá-las e depois colocá-las no interior das
latas de querosene cheias com banha assim como outras carnes nobres: os lombos
de porco e outras que havia interesse em poupar para uma ocasião especial;
acondicionadas dessa forma, essas maravilhas podiam passar de um ano para o
outro em perfeitas condições.
As parvas ou
"palvas" serviam para a conservação de milho, abóbora e, principalmente,
batata-doce. As parvas de milho eram feitas dentro das próprias lavouras onde
este era colhido e tinham a forma piramidal ou cone invertido, pois os pés da
planta eram arrancados e amontoados com as canas de pé.
As parvas para
batata-doce eram feitas com milhã ou com a fina e branca areia encontrada em
muitas sangas, arroios e beira de estradas; primeiro fazia-se um lastro espesso
de milha ou areia e depois se colocava uma camada de batatas sem que uma encostasse-se
à outra; depois, outra camada de milhã ou areia e assim sucessivamente.
O milho era
classificado para retirar o "restôio" ou restolho e era empilhado com
casca. Essa tarefa exigia uma técnica especial, caso contrário, às pilhas
desmoronam.
FONTE:
MATTOS, Eron
Vaz. "Aqui – Memorial em Olhos D’água", Bagé, Gráfica CECOM, 2003.
210p.
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