sábado, 2 de novembro de 2019

O BEIJO DO FORTE DE SANTA TECLA


O beijo é uma demonstração de afeto e carinho mais antiga da face da terra. Tirando os de paixão e de amor, existem vários outros tipos de beijos.
Antigamente, costumava-se beijar as mãos dos mais velhos em sinal de respeito. Durante os namoros, beijar, só em pensamentos. Esse ato tão natural nos dias de hoje, só era permitido, após o sim no altar.
Algumas pessoas mais velhas costumavam (e costumam) beijar alguém mais novo do sexo oposto com tanto frenesi, que os deixavam ora babados, se fossem homens, ora marcados de batom, se fossem mulheres.
Também era comum, um homem beijar a mão da mulher, jovem ou não, em sinal de admiração e cavalheirismo.
Além disso, é hábito até os dias atuais, beijar com extremo carinho, os bebês e crianças pequenas. No entanto, alguns exageram na dose, ao ponto das crianças comentarem com seus pais ou responsáveis: “O tio (ou tia) tem beijo babado”. Alguns pequenos, não conseguem disfarçar o desconforto desse beijo “molhado” e o limpam na hora.
Sem dúvida o beijo mais famoso da história, foi o que Judas deu em Jesus, antes de entregá-lo as autoridades romanas, para ser condenado à morte.
Em Bagé também houve um inusitado beijo que marcou época, não referido até 2012, inclusive, pelos amantes da história da Rainha da Fronteira. O fato aconteceu durante o cerco ao Forte espanhol de Santa Tecla.  As tropas, luso-rio-grandenses comandadas por Rafael Pinto Bandeira chegaram à fortificação em 18/02/1776. As primeiras tratativas de entrega do reduto se deram ao final da primeira semana do cerco, entre o capelão português e o capelão espanhol.  
Em outro encontro, ocorrido em 10/03/1776, o próprio Bandeira e o capitão Luiz Ramires, comandante do forte, ficaram frente a frente, aí acontecendo o episódio mais constrangedor da vida das campanhas militares daquele homem sagaz. O próprio caudilho português conta: “Logo que nos topamos, o primeiro cortejo foi dos abraços, depois três beijos, dois nas faces e um nos beiços, cumprimento que a primeira vez que vejo”.
Para o pesquisador pinheirense Artêmio Vaz Coelho, Rafael Pinto Bandeira foi o primeiro gaúcho sul-rio-grandense, porque reunia todas as qualidades para isso, pois além de ter nascido aqui, também foi estancieiro, grande líder, exímio estrategista militar e valente guerreiro.
O constrangimento é patente se considerarmos que o beijo na boca passou também a representar uma espécie de contrato entre o senhor feudal e o seu vassalo. Era algo como “dou minha palavra”. Os burgueses adotaram o beijo na face como sinal de saudação; os nobres usavam o beijo na boca para o mesmo fim.
Interessante que para duas personagens da nossa história de ascendência ibérica, a aparente naturalidade de um, no caso o espanhol, e o embaraço do outro, no caso o português, causasse neste último tamanha reminiscência.
A favor da sua surpresa, o ato do capitão sitiado pode ter sido facilitado pela baixa estatura de Rafael, como sempre é retratado nas pinturas.
Com todos esses atributos, dá para imaginar o quanto fora embaraçoso para Rafael o beijo que levou de Ramires, diante dos seus comandados perfilados em pleno pampa gaúcho.

Fontes:

LOPES, Cássio Gomes (LUCAS, Edgard Lopes); "Cerros de Baye – Santa Tecla – Origens de Bagé", Bagé, LEB, 2012.
 MARTINEZ. João Flávio Martinez. “A História do Beijo e as Religiões”, Set/2011, http://www.cacp.org.br/a-historia-do-beijo-e-as-religioes/
MONTEIRO, Germano Campos; "O Beijo", Porto, Imprensa Civilização, 1921.




Um comentário:

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