Antigamente, tive o privilégio de conviver com vários animais da nossa fauna pampeana. Ao campeirar se via tatus e veados entre o chircais, se via perdigões e jacus nos arvoredos, à tardinha se escutava os gritos dos sorros retumbarem aos quatro cantos e volta e meia recebia a visita de um zurrilho na volta das casa, procurando alguma galinha pra saciar sua fome. Há cerca de 5 anos, uma granja arrendou um campo lindeiro pra plantar soja. Plantar soja é um grande negócio, pois seu investimento inicial é de R$1.000/ha no plantio e chega a ter um retorno financeiro na colheita de no mínino R$3.000,00/ha. Mas só que em conseqüência dessa excessiva ganância de visar somente o lucro e não se importar com nada mais, é o quase o desaparecimento de grande parte dos animais dessa região. Pois, infelizmente não vejo mais, nem sorros, nem zurilhos e muito menos veados. O máximo que vejo é algum tatu ou algum jacu ressabiado. Vejam como são as coisas: Um granjeiro pode plantar soja e matar centenas animais silvestres e não receber nenhum tipo de punição! Agora se o cidadão, tiver a infelicidade de ser pego pela polícia com uma caça, que muitas vezes é a única maneira dele colocar um pedaço de carne na mesa de sua família, com certeza será preso e vai mofar na cadeia. Vejam bem, não quero eu aqui incentivar a caça, de maneira alguma. Só queria mostrar a realidade nua e crua de nosso país. Que enquanto, em Brasília vive um escândalo atrás do outro, onde engravatados desviam-se milhões e milhões dos cofres públicos e ninguém sabe de nada, ninguém viu nada e tudo termina em pizza. O pobre trabalhador vive abaixo do mau tempo, suando a camiseta, batalhando dia pós dia para ganhar seu pão e com a plena convicção de que não pode sair dos trilhos em nenhum momento, pois se sair fora da linha, com certeza vai ter que pagar com juros e correção monetária pelo que fez. Como diz os versos de Don Ortaça: “há um ditado que corre no meu rincão, cadeia é pra pobre que rouba por precisão, é barão quem rouba muito, quem rouba pouco é ladrão... O mundo é feito pra todos, mas isso não corre certo, no repartir das boladas, leva mais quem ta mais perto, o grande encobre o pequeno e a sobremesa é do esperto”
Publicado na Coluna Livre do Jornal A 1ª FOLHA, Página 03, de 15 a 17 de Novembro de 2008.
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