Adão Cavalheiro Maurente nasceu no início da década de 1940, nos Olhos D’água, próximo ao Corredor do “Tata”, interior de Bagé. Filho de Iracema Cavalheiro Maurente e Francisco Donzel Maurente, conhecido como “Cabo Maurente”. Entre a infância e adolescência adotou o apelido de “Boneval”, em homenagem a um militar de mesmo nome a quem admirava. Logo cedo começou a trabalhar nas estâncias da região da Bolena, Palmas, Tunas, Baú. Por não ficar muito tempo em um lugar só, ganhou o apelido de “Copa do Mundo”.
Nas marcações e rodeios destacava-se pelo seu porte físico, destreza e força com os animais. Nesses eventos, costumava apertar os terneiros de ano solito e também sujeitava as vacas mais gordas do rodeio segurando as mesmas por uma das patas traseiras. E nas comparsas de esquila carregava as bolsas de lã no ombro como fossem sacos de batata.
Nas suas horas de folga gostava de frequentar carreiras de cancha reta. E foi numa penca na cancha anexa ao bolicho de Maurício Campos, na Bolena, que Boneval, até então um individuo pacato, se rebelou e reagiu à provocação de um “guampa torta”, dando-lhe uma “baita sumanta”. A partir desse momento, passou a ficar conhecido e cada duelo que vencia, mais aumentava sua fama. No entanto, não era de puxar briga, só quando era desafiado. Na época, muitas pessoas, por causa de sua fama, ao saber que se aproximava, ficavam com medo. Mas se preocupavam em vão, pois Boneval, por onde passava deixava saudade, pela sua camaradagem, serventia e humildade. Certa feita, na Chácara da Cortiçeira, na Bolena, Ângela Campos, na época com oito anos, foi passear na casa de sua madrinha distante dois quilômetros. Quando estava retornando acompanhada de mais três pessoas, foram surpreendidos por uma tormenta de verão e quando chegou em casa, foi Boneval quem a ajudou descer do cavalo.
Outra coisa que adorava fazer era caçar tatu e mulita, com os quais presenteava os amigos da cidade. Aliás, quando vinha à cidade, costumava frequentar os seguintes bares:
• Cimirro, no Povo Novo (atual São Pedro);
• Júlio Campos, no bairro São Jorge, quase Laranjeiras;
• Margarida, no Bairro São Martim.
Neste último, meteu um baita bochincho e foi acionado o policiamento, que na época era misto. A primeira a chegar foi a Polícia Civil, composta pelo Inspetor Piançu e mais três policiais que não conseguiram retirar Boneval do recinto. Então, chegou o reforço da brigada militar e, quando todos pensavam o pior, Boneval, ao ver o sargento Távora, o abraçou chorando e se entregou.
Também na cidade, volta e meia se enfurnava nos cabarés da baixada, entre eles o “Pai Faca” e Acúrcio. Neste, um individuo lhe deu um tapa no seu rosto, o qual revidou, montando no ombro do homem e puxando violentamente seus cabelos e só o soltou no reflexo depois que queimaram seu braço com cigarro. E foi num desses cabarés que Boneval arrumou enrosco com uma mulher de apelido “Sarará”, com a qual teve um filho por codinome “Diabo Loiro”.
Assim era a vida de Boneval, entre o campo e a cidade, até que, após um dia inteiro de bebedices no bolicho do Maurício Campos, na Bolena, foi surpreendido por dois indivíduos no retorno para as casas. Já era noite e os homens aproveitaram um momento de descuido de Boneval e lhe golpearam a nuca com um mangaço. Desacordado, Boneval foi colocado num baixo da estrada e coberto por pelegos. Algum tempo depois, um estancieiro, por acidente acabou passando de jipe por cima de Boneval. Quando percebeu o fato, parou e foi verificar o que era aquilo e ficou surpreso ao encontrar seu ex-peão desacordado. De pronto o socorreu e o levou imediatamente para a Santa Casa de Bagé e pediu para que os médicos fizessem de tudo para salvar aquela vida. Mas não adiantou e Boneval acabou falecendo oito dias após. Depois do velório, o corpo de Boneval foi levado num caminhão verde até o Cemitério do Palmito, próximo ao Passo dos Perez, nos Olhos D’água, por volta das 11h da manhã, onde foi sepultado na presença de pouquíssimas pessoas.
Faz mais de trinta anos que Boneval se foi, mas sua história permanece bem viva na memória de várias pessoas que o conheceram e foi eternizada nos versos do professor e poeta Diogo Corrêa, através da música “Boneval: O Tal Copa do Mundo”, que concorreu a 2ª Galponeira de Bagé, no ano de 2005.
FONTES: Lopes, Cássio Gomes e Lucas, Edgard Lopes. “A Rainha da Fronteira – Fragmentos da História de Bagé”, Bagé, Pallotti, 2015. 183 p.
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