O residencial do Cerro
é um dos empreendimentos do programa federal “Minha Casa Minha Vida” a ser
construído em Bagé. A obra prevê a construção de 81 unidades e está orçada em
R$4,1 milhões. Depois do impasse entre a Caixa Econômica Federal e a construtora
responsável pela execução do projeto, outro impasse emperra o andamento das
obras. Após denuncia feita pelo Conselho Municipal do Patrimônio Histórico,
Cultural e Ambiental de Bagé (Compreb) junto ao Ministério Público, a
promotoria abriu inquérito para investigar a construção do Residencial. O
presidente da Compreb Guilherme Rodrigues Bruno defende que a construção do
residencial irá descaracterizar um dos maiores patrimônios culturais e
históricos do município e também possui um amparo legal para que a o
empreendimento prossiga, a lei municipal nº 4.836, de janeiro de 2010, onde
consta no artigo quinto que os Cerros de Bagé são patrimônio histórico e
ambiental do município. Já o Secretário Municipal de Habitação Guto Nadal,
destaca que o local já está consolidado para loteamento e construção de
moradias populares desde a década de 80. Após quatro anos de pesquisas, eu e o
amigo Edgar Lopes Lucas publicamos o Livro “Cerros de Baye – Santa Tecla,
Origens de Bagé”, no qual trazemos vários aspectos interessantes, muitos
inéditos sobre a história primitiva de Bagé. Nele destacamos que a nossa região
era um grande sertão e a Nação Pampeana que aqui habitava era composta por
diversas tribos indígenas: Guenoas, Charruas, Minuanos e Yaros. Estas eram
nômades e vagavam pelos campos. O índio Ibagé, fazia parte de uma dessas
tribos, provavelmente dos Charruas. Ele inicialmente habitava próximo ao Rio
Negro, no território Uruguaio. Com tempo subiu por este mesmo Rio e instalou
sua tolderia ao pé de um conjunto de Cerros, que futuramente levaria seu nome.
A partir daí os "Cerros de Baye" seriam uma importante referência
geográfica tantos para os espanhóis (donos do território), quanto para os
portugueses em razão das constantes demarcações relativas aos Tratados de Madri
(1750) e Idelfonso (1777). Mais tarde, em 1787, o filósofo, matemático e
geógrafo, José de Saldanha, após ter passar por aqui, anos antes em 1753,
registrou em Diário Resumido e Histórico da Demarcação: “Serros de Bayé” e
escreveu a seguinte explicação etimológica: “Mbaiê” cerros já descritos na
derrota de 1786; “Mbay” significa “entre os Tapes, cerro ou monte” e o “ê”
seria plural. Portanto caros leitores, os Cerros de Bagé, não são um lugar
qualquer e sim uma importante figura topográfica, que inegavelmente é a marca
registrada de nossa cidade. Construir um residencial nesse local, com tantos
outros espaços urbanos ociosos é retrocesso e um verdadeiro crime contra o
patrimônio histórico, cultural e ambiental da rainha da fronteira.
Bagé, 13/12/2012
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