Por ocasião da campanha
do Paraguai, veio do Norte, como é sabido, a maior parte das valentes
infantarias que com tanto heroísmo se assinalaram naquela guerra, e com as
quais Osório tanto se glorificou, a par das cavalarias gaúchas. Gente completamente
bisonha do ambiente sulista, era muito interessante notar-se as apreciações que
faziam do meio e hábitos do Rio Grande. Alguns soldados de regresso à Bahia,
após a guerra, perguntados que tal era o Rio Grande, respondiam:
- Não vale nada, é uma
terra onde só se come carne, carne e mais carne!
- Outros, pelo
contrário, exaltavam o valor dos cavalarianos (como chamavam as cavalarias),
dizendo:
- Que gente! Você não
faz ideia! Era a nossa confiança nas batalhas!
No Rio Grande é comum o
avestruz. Chega mesmo quase ao terreiro das fazendas. Mas, ao observar qualquer
movimento estranho, desconfia e afasta-se para lugares recônditos, não sento
visto. Ao aproximar a época da postura, o avestruz faz seu ninho numa cova de
touro, nela pondo alguns raminhos silvestres e ali depositando cerca de trinta
e poucos ovos. Em geral, põe mais de uma vez no mesmo ninho.
Ema (espécie semelhante ao avestruz)
Antes da incubação, o
avestruz põe uns dois ou três ovos nas imediações do ninho, esparsos.
No Rio Grande são
conhecidos tais ovos pelo termo “guacho”, palavra que se aplica ao terneiro ou
potrilho que logo após nascer fica órfão de mãe, em geral são criados pela caridade
de alguém da fazenda e quase sempre, com muito carinho. Os ovos guachos tem uma
finalidade muito interessante. O avestruz, quando desova leva os filhotes a um
deles, quebra-o com a pata e por já se acharem podre exalam um fétido terrível,
juntando por isso enorme quantidade de moscas que servem de alimento aos
avestruzinhos durante os primeiros dias.
Por ocasião da
travessia de tropas de infantarias pelo Rio Grande, rumo a Uruguaiana, de
alguns batalhões em descanso saiu a passeio, em torno, um grupo de soltados
baianos. Casualmente depararam com um ovo guacho. Formaram em redor grande
celeuma! Uns duvidavam que fosse ovo, outros afirmavam que não podia ser outra
coisa, e assim prolongaram a discussão até que avistaram um companheiro, que já
tendo estado em serviço nas guarnições do Rio Grande anteriormente, se arrogava
o direito de superioridade sobre os outros, inculcando-se, também, sabedor de
tudo o que dizia a respeito ao Rio Grande. Chamaram-no em altas vozes e por
gestos, e João José (que era seu nome) foi ter com os camaradas. Em chegado,
ouviu logo as opiniões diferentes sobre o ovo e o apelo que lhe faziam sobre os
seus conhecimentos das coisas do Rio Grande. Ele que nunca tinha vista tal
coisa, e nem sequer tinha uma concepção do avestruz, formalizou-se e, sem
querer dar o braço a torcer, tomou ares de juiz e sentenciou com o ovo na mão e
com o braço estendido em suave movimento:
- Ele ovo é, mas não é
de ave de pena! ... Pelo peso e pelo grandor é de boi ou de cavalo!...
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