O General Bento Gonçalves, o maior espadachim de seu tempo com o testemunho de quem conviveu com seus filhos, o camaqüense Bento Martins de Azambuja (1869 - 1946), cujo nome recebeu em homenagem ao herói, autor de Recordações Gaúchas (1946), coletânea de artigos publicados no Correio da Manhã, do Rio de Janeiro e outros jornais da época, obra rara, de pequena tiragem e distribuída no círculo restrito da família, trás ao conhecimento público esta raridade, ouvida na casa solar de Bento:
“ . . . Após o churrasco, dos fogões
guerreiros, alguém, dirige a palavra a respeitável figura do General e
informa-lhe que, nas forças do governo há um homem que faz muito mal aos
farroupilhas, porque toda vez que são obrigados a uma retirada forçada, os
companheiros que ficam para trás, de cavalos cansados, ele vem matando um por
um, a lançassos.
- Quem é ele ?
- É o mulato “ Isaias Grande ”, (Isaias
Antônio Alves) Capitão das forças do Coronel Francisco Pedro de Abreu. É o
primeiro lanceiro das forças do governo.
- Pois bem, na primeira guerrilha mostrem-mo.
A oportunidade não tardou. Quando
preparava-se para o combate, alguém vem a Bento e lhe diz apontando: o Capitão
Isaias é aquele que lá está, montando um cavalo mouro e comanda um esquadrão de
lanceiros.
Bento montava nesse dia o picaço Ibarrol,
afamado parelheiro do velho Alberto José Centeno, seu compadre e amigo, que lhe
mandara de presente, conduzido por um boçalete de fitas com as cores da
República Rio-grandense.
Espada em punho, cavalo preso às rédeas,
descreve um semi-círculo, passa pela frente do adversário audaz, e brandindo a
espada, ameaçadoramente, incita-o ao combate. Isaias bem montado, cerra as
esporas, enrista a lança e, cego de ódio, arremessa-se para Bento, contando
segura a vitória por tomar o inimigo pelas costas. Mal sabia, entretanto, que
as vantagens que lhe oferecera o foram propositadamente, para dar-lhe, dentro
alguns segundos, a tremenda lição que merecia.
Bento espera pelas costas o golpe fulminante
e ao lhe ser este desferido, em rápido movimento de corpo, desvia-o com a
espada, deixando a lâmina correr sobre o cabo da lança decepando a mão que a
segurava e, cortando, ao mesmo tempo, as duas rédeas do cavalo de Isaias e,
fazendo seu cavalo retroceder sobre as patas traseiras, Bento toma agora, o
adversário pelas costas e, o conduz a pranchaços até próximo de seu esquadrão.
Bento, como sempre, vencia o adversário, mas,
poupava-lhe a vida.
FONTE:
LOPES, João Máximo. “Habilidades Campeiras nas Guerras do Sul”,
Porto Alegre, Evangraf/Núcleo de
Pesquisas Históricas de Camaquã, 2012. 128 p.
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