Jackeline da Rosa Moreira e sua
amiga Mirce Pazinato Ribeiro planejavam conhecer a região de Torrinhas,
interior de Pinheiro Machado há alguns meses. Vasculhando o território através
do Google Earth, encontraram alguns locais por mim mapeados. Jackeline
conseguiu me contatar através do Facebook, e me solicitou ajuda para guiá-las
até a Pedra de Torrinhas. Não sou vaqueano daquela região, mas sou amigo de um
grande conhecedor daqueles pagos, o historiador Artêmio Vaz Coelho. Quando
entrei em contato com ele, soube que se encontrava em Porto Alegre e que, em
princípio, não poderia nos acompanhar porque tinha compromisso bem no dia da
expedição. Porém seu espírito de pesquisador falou mais alto e decidiu guiar-nos
pelos campos da segunda zona de Pinheiro Machado. Do centro da antiga Cacimbinhas,
Artêmio e eu partimos em direção ao Cerro do Papilete, onde ele possui
propriedade. De Caçapava, as gurias pegaram a estrada às oito horas da manhã e
após seis horas de viagem e mais de cem quilômetros rodados, passando pelo
interior de Santana da Boa Vista, atravessando a balsa sobre o Rio Camaquã, se encontraram
conosco às quinze horas. Depois de deixarmos as mochilas no quartel-general ao
pé do Cerro do Papilete, nos tocamos até a Pedra de
Torrinhas.
Após alguns minutos, chegamos ao vale do Velhaco, lugar repleto de
cerros, chapadas e rochedos das mais variados tamanhos, cortados por sangas que
deságuam no Arroio Velhaco. Dentre tantos acidentes naturais bonitos, destaca-se,
imponente no meio do vale, a Pedra de Torrinhas, com sua estrutura que parece
brotar em cima de um cerro.
Pedra de Torrinhas parece brotar em cima de um Cerro - Vale do Velhaco
Ficamos tão fascinados com esta bela rocha que, até
o entardecer fotografamos a mesma pelos mais variados ângulos.
Sombra da pedra
Eu e Artêmio explicando para Jackeline as origens da região
Quando o sol
enfim se pôs, nos tocamos para nosso QG, onde sorvemos um amargo junto ao fogão
a lenha trocando ideias, contando causos e histórias, enquanto seu Artêmio
preparava um “arroz de china pobre” para jantarmos. Logo que amanheceu,
encontrei as gurias tomando um chimarrão e as convidei para desbravarmos o
Cerro do Papilete. Além do cerro, depois de me apartar delas, visitei a caleira
e tapera do Papilete, italiano que deu origem ao nome daquela região.
Tapera do italiano Papilete
Quando
retornei “pras casa”, encontrei o Artêmio tomando café. Recolhemos nossos
pertences, pegamos a estrada e fomos conhecer o Cemitério dos Cativos. As
gurias foram novamente até a Pedra de Torrinhas, enquanto nós seguimos em
frente em direção à Vila de mesmo nome. No caminho visitamos o local onde foram
executados alguns negros pós-revolução de 1893.
Enquanto clicava paragens
encontramos dois conhecidos que retornavam de uma campeirada com seus cavalos
suados e cuscos de língua de fora. Já na Vila de Torrinhas, além do cemitério,
avistamos o hospital, os antigos bolichos e onde outrora fora uma farmácia. Já
era passado do meio dia e eu estava seco de sede. Então o Artêmio bateu na casa
de um conhecido, justamente para pedir um copo de água. O dono estava almoçando
e nos convidou para comermos, mas meu amigo agradeceu. Enquanto a conversa
entre os dois prosseguia, minha fome aumentava. E quando o dono da casa me
convidou novamente para almoçar, não resisti e comi um peixe cozido, arroz e
polenta. Após me alimentar, agradeci ao seu Luís pela hospitalidade.
Vila de Torrinhas
Da vila
pegamos a estrada rumo ao Cerro dos Porongos. Chegando lá encontramos as gurias
junto ao marco do movimento negro. Dali, as levamos para o marco alusivo ao
combate farroupilha travado em 1844, onde nosso vaqueano contou um pouco da
história do local. Mostrou um capão de mato ao pé do cerro, do qual corre um
pequeno arroio, local mais provável para o acampamento farroupilha comandado
por Davi Canabarro. Ao retornarmos para a estrada, fizemos a última parada no
Marco da Guarda Velha, no qual foi assim denominado em virtude de ali ter
existido uma guarda fronteiriça do tempo do Tratado de Idelfonso, lá pelas idos
de 1777. Nesse local nos despedimos das gurias que pegaram a BR e se foram a
Caçapava. Eu, por minha vez, retornei a Bagé. Com esta expedição realizei um
sonho antigo, conhecer a região de Torrinhas, lugar fascinante, de belezas
naturais sem igual, onde se podem avistar animais silvestres e ainda encontrar
parte do bioma pampa conservado. Tudo isso somente foi possível graças ao convite
das “papa laranjas” Jackeline e Mirce e pelo empenho do historiador Artêmio Vaz
Coelho em nos guiar com maestria pelos campos da segunda zona de Pinheiro
Machado e por sua acolhida hospitaleira junto ao pé do Cerro do Papilete.
Artêmio, eu, Mirce e Jackeline em frente ao "QG" ao pé do Cerro do Papilete
Cássio, sou "crioulo" dessas bandas... nascido e criado em Torrinhas e Bagé, concomitantemente. Meu pai tem propriedade próximo a Torrinhas. Gostaria muito de ter contato com o Artêmio, porque também sou historiador, licenciado pela UNESP. Moro há vários anos em São Paulo, e pretendo descer "pras casa" lá pelo dia 10/12. Aguardo retorno. dorvalfagundes@hotmail.com. Abraços!
ResponderExcluirPrezado Dorval,
ResponderExcluirVi seu comentário sobre Torrinhas só agora. O contato do Artêmio te passei por e-mail. Abraço!
Desculpe pela demora em te responder. Encontrei um vídeo teu no YouTube, relatando a história de Torrinhas. Por curiosidade entrei aqui e "descobri" meu próprio comentário e a tua resposta. Muito obrigado.
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