Eu e minha filha Guilhermina, no desfile farroupilha de 2010, em Candiota.
A moura foi domada pelo ginete Luciano Silva,
morador do Baú, 3º Distrito de Candiota e adquirida junto à antiga Estância
Elaine. Seu primeiro dia na nova morada não foi nada tranquilo, estranhou o
ambiente e não queria se deixar pegar dentro da mangueira. Lembro-me de quando
meu pai tentou pegá-la com uma corda, ela se esquivou mais que ligeiro soltando
bufos pelas ventas e no mesmo instante partiu em disparada em direção à
porteira. Tinha chovido e meu irmão, que estava encarregado de guardar aquele
local, resvalou no barro e a égua saltou por cima dele, se mandando a “la cria”
para o campo. A partir desse momento,
passou ser vista com outros olhos e alguns evitavam encilhá-la. Porém, eu me
negava a aceitar aquele velho ditado: “a primeira impressão é que fica” e
tratei logo de experimentar a égua. Ao contrário dos outros, peguei-a com
facilidade e levei para o galpão, ali fui colocando com carinho o xergão,
carona, basto, chincha, pelego e sobrechincha. Quando a encilha estava completa,
recuei alguns passos, analisei a égua por inteiro e percebi que estava diante
de um animal diferenciado, que aliava sangue e morfologia, oriunda da cruza das
raças chilena e crioula. Depois de alguns minutos de contemplação, me
prepararei e quando coloquei o pé no estribo, a égua pegou a volta e eu boleei
a perna mais que ligeiro e me acomodei sobre o pelego. Do galpão saí campo afora,
a trotezito no más, num tranco leve e macio,
onde a égua vinha atenta, trocando orelha a cada lote de gado que ao
longe avistava. Então percebi que não estava montado em um cavalo qualquer e
sim numa égua que conhecia a lida. Em seguida, se clareou uma oportunidade e
coloquei a égua no serviço ao conduzir um lote de gado com perfeição até a mangueira.
Ao embocar os animais em direção à pera, a égua se mostrou mui ágil, sempre atenta
para que nenhum animal refugasse. Campeiro
que não estivesse bem firme nos bastos dela caía, pois suas volteadas eram
muito ligeiras. Por muitos anos, foi a égua de minha encilha e perdi as contas
de quantas campeiradas fizemos juntos. Na lida, não refugava parada e cruzava o
que tivesse por diante em busca de alguma vaca ou boi matreiro. Certa feita, fui
atacar um lote de gado que estava disparando para o mato e acabei caindo num
manancial. Ali, a égua ficou atolada até o peito e de tanto fazer força para
sair daquele local, acabou cortando a boca, mas graças a Deus não ficou com
sequelas e em seguida se recuperou. Noutra ocasião, num dia de tormenta, a égua
inventou de se coçar numa cerca de sete fios, sendo um destes farpado. Não sei
como ali ficou uma noite inteira presa pela pata. Por sorte,
quando amanheceu acharam a égua toda maneada entre os arames. Depois de muito
trabalho conseguiram enfim resgatá-la, mas desse incidente ficou renga e com a
cola pitoca, mas nada que atrapalhasse seu rendimento na lida, pelo contrário,
melhorava dia após dia. Dentre os momentos mais marcantes houve um, em 2010, quando
com ela participei do desfile farroupilha em Candiota, juntamente com minha
filha. Alguns anos após, a égua sofreu outro acidente, semelhante ao primeiro,
mas desta vez não teve escape e infelizmente veio a morrer. Não recordo há
quanto tempo que te foste, égua velha, mas ainda parece que foi ontem que no
teu lombo eu campeirava. Teu jeito, teu olhar, teu cheiro ainda permanecem bem
vivos em minha memória e pode passar o tempo que for, eternamente serás a égua
de minha encilha.
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