Este
cachorro que vos falo é uma cruza de labrador com linguiçinha. De pelagem
marrom, poderia ter sido chamado de “Chocolate”, mas boi batizado como o nome
de “Cyborg”. Quando filhote era fofo e brincalhão, mas quando se tornou adulto, começou a ficar encrenqueiro. Apesar de
pequeno, comprava briga com qualquer cachorro que cruzasse seu caminho,
independente do tamanho, não refugava parada. Não respeitava quase ninguém,
inclusive seu dono, mas não sei por que carga d’água simpatizou comigo e logo
ficou meu amigo. Certa feita, fui correr para o lado do antigo matadouro
municipal e o cusco me seguiu. Quando cheguei à frente do Bagé Hourse, um trio
de ovelheiros lhe “amontoaram” como fosse um saco, mais que ligeiro desfiz o
entrevero. Outra vez me seguiu até o supermercado e ali um galgo lhe pegou pela
nuca, fazendo-o virar uma pirueta no ar, parecendo um ioiô e quando tocou no
chão foi atacado por uma dezena de cachorros. De pronto, apartei a peleia. Como
se não bastasse, Cyborg não aprendeu a lição e me seguiu novamente e quando fui
atravessar uma rua “entupida” de cuscos, estes lhe arrastaram e um enorme
cachorro, que mais parecia um terneiro, lhe agarrou pelo pescoço e o pressionou
contra o barranco. Nessa ocasião fui obrigado a dar um chute no cachorrão, para
dispersá-lo, pois estava matando meu amigo. Em todas essas situações nunca se
acovardou e peitou todos seus adversários. Entretanto, viver peleando, teve
suas consequências. Em maio desse ano, começou a decair. Então foi levado ao veterinário,
que constatou após uma série de exames, que Cyborg estava com o corpo cheio de
tumores. Ali no consultório ficou em tratamento intensivo, na esperança que
melhorasse, mas de lá não saiu mais e acabou morrendo faltando três dias para
findar o mês. Hoje, passados três meses, confesso que ainda não me acostumei
com sua ausência e a cada dia que passo pelo lugar onde ficava sua casinha,
parece que sinto sua presença, como estivesse me recebendo, de rabo abanando,
alegre e façeiro, como sempre fazia e em meus ouvidos ainda ecoa seu latido
rouco, inconfundível, meu cachorro veio!
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