Em 1884, foi concluída
a construção da estrada de ferro Rio Grande/Bagé. Em Candiota existia quatro
estações e algumas paradas:
·
Bomba do Candiota (parada);
·
Estação Candiota;
·
Parada Apleby (mais tarde Estação Dario
Lassance);
·
Estação Santa Rosa (Seival);
·
Parada Augusto Duprá.
No intervalo dessas existiam
algumas vilas de “tucos” (como eram conhecidos os trabalhadores da rede
ferroviária responsáveis pela manutenção e conservação da linha). Eles residiam
com suas famílias em chalés de madeira e recebiam assistência médica e
religiosa através de profissionais da própria RFFSA (Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima).
O terreno entre as
Estações Candiota e Dario Lassance era bastante instável. Constantemente cedia
em alguns trechos, causando alguns acidentes. Os mais famosos foram o “do
corte” e “os mortinhos” por ali terem sucumbido dezenas de pessoas. Conforme o
relato de pessoas mais antigas, o trem descarrilhou e caiu num barranco. Com o
impacto, a locomotiva pegou fogo, vitimando o maquinista que ficou preso nas
ferragens.
Local do acidente "dos Mortinhos"
Foto Cláudio Greco Castañeda
Poucos meses antes de falecer, seu Custódio
Chagas, que trabalhou na RFFSA entre as décadas de 1950 e 1960, me concedeu uma
entrevista relatando como foi o acidente do corte, no qual o trem descarrilhou
e tombou interrompendo o fluxo da estrada de ferro. Conforme Chagas, quando
acontecia um acidente desse tipo eram deslocadas várias turmas de “tucos” que
trabalhavam sem cessar até desobstruir a via.
Custódio Chagas no acidente "do Corte"
Essa estrada foi
desativada em 1969 e durante minha infância, nas décadas de 1980 e 1990 muitas vezes
transitava por ali à cata de butiás.
Antiga estrada de ferro era repleta de butiazeiros.
Foto Cláudio Greco Castañeda
Ali conheci o local do “corte”, dos
“mortinhos” e onde ficava a vila de “tucos”, onde existia além de uma quinta de
pereiras, uma gruta de águas cristalinas das quais eu sempre bebia.
Local onde ficava a Vila dos "Tucos"Foto Cláudio Greco Castañeda
Quinta de pereiras
Foto Cláudio Greco Castañeda
Transcorridos 15 anos,
por volta de 2005, o proprietário do campo, infelizmente vendeu o local para
extração de carvão. Em pouco tempo de atividade o lugar foi quase que
totalmente devastado. Mas o “corte” ainda permanece conservado onde se pode ainda
avistar algumas aves silvestres.
Foto atual "do corte"
O banhado dos “mortinhos” esta tomado de
cinzas e as águas que correm dele são avermelhadas com forte odor de enxofre.
Dali em diante, a parte esquerda está parcialmente revirada e no lugar foram plantados
eucaliptos. Na faixa que sobrou, foi semeada uma palha brava no meio dos
chircais, que tapam um homem a cavalo.
A quinta de pereiras e a gruta não
existem mais. Ficou somente um monte de terra e pedras, repleto de eucaliptos
onde não se avista uma alma vivente, nem ao menos uma serpente.
Por essas e tantas
outras está mais que comprovado que a extração de carvão em Candiota foi
extremamente maléfica, pois liquidou com a fauna e flora outrora existentes,
além de poluir sangas e arroios afluentes do Arroio Candiota.
Segundo
especialistas, gerar energia através da queima de carvão é um retrocesso, pois essa era a última alternativa na qual deveria ser utilizado esse mineral.